sábado, 20 de novembro de 2010

Memorialismo (Apresentação Oral)



Síntese da apresentação oral.

A minha apresentação oral teve como assunto o Memorialista. Foram faladas as características do memorialismo bem como a analise ao tomo 1 do livro Memórias, de Raul Brandão, sendo a definição dada a sua obra em completo : Abalada pelo sentimento de crise ), a obra de Raul Brandão conduz-nos a um confronto com a realidade — entre o pitoresco e o dramático, o cómico e o patético, o grotesco e o trágico, o nojo e o encanto terno, o «enxurro» e o «sonho. Em torno de personagens tragicómicas como Gabiru ou Gebo, «dum lado mora o espanto, doutro o absurdo»; e até o silêncio é clamor e grito, na dialéctica da Dor e no júbilo grave com que se aceita a Vida.

Algumas das características dadas em relação à definição de memorialismo são que se chama memorias ao género de literatura em que o narrador conta factos da sua vida. É um modo tipicamente narrativo, assim como a novela e o conto, porém essa classificação é predominantemente atribuida a historias verídicas ou baseadas em factos reais. Diferencia-se da biografia pois não se prende a contar a vida de alguém em particular mas sim a narrar as suas próprias lembranças.

No Fundo, memorias são o relembrar de alturas da vida do sujeito, colocando em causa pormenores do passado que já não se lembra, que possivelmente tenham alterado o percurso vitae.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Síntese da Apresentação Oral - Reportagem

Apresentação Oral



Reportagem:

A reportagem é uma versão mais completa e alargada de uma notícia. Ao contrário da notícia o repórter tem de se deslocar ao local dos acontecimentos para recolher depoimentos e testemunhos.

Existem diferentes tipos de reportagem, mas é possível destacar três:

- Reportagem de acontecimento – o jornalista apresenta os acontecimentos que são relatados como factos consumados.

- Reportagem de acção o jornalista vai relatando os factos à medida que estes avançam, como se estivesse a escrever enquanto assiste aos acontecimentos.

- Reportagem de citação reportagem em que o jornalista vai alterando o seu discurso conforme os relatos dos entrevistados.


Estrutura:

Ÿ Título – pode ser antecedido por um antetítulo e seguido de um subtítulo;

Ÿ Introdução/entrada (lead) – Apresentação breve do assunto e que é escrita de uma forma atractiva para despertar a atenção do leitor; deve responder ás seguintes perguntas:

- Quem?                                   – Onde?
- O quê?                                   – Quando?         


Ÿ Desenvolvimento/corpo narração dos acontecimentos de uma forma mais pormenorizada, em que são incluídas citações de entrevistados;

Ÿ Conclusão – resumo da informação apresentada anteriormente, com comentários do repórter;

Ÿ Identificação do repórter.




Características:

Ÿ Registo de língua corrente;
Ÿ Linguagem clara, objectiva e directa para o leitor perceber o que está a ler;
Ÿ Geralmente o discurso está expresso na 3ª pessoa gramatical, mas por vezes a 1ª pessoa também é usada;
Ÿ Objectividade na transmissão da reportagem.



Bernardo Santos, nº7, 10ºD

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Poema de Fernando pessoa

Liderdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
Como tem tempo, não tem pressa…
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca…


                                                                                                                               Filipe Esteves nº10 10ºD

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Pascoaes sobre Camilo

«E a nossa própria imagem não somos nós num efeito quimérico de luz? Estamos nesse efeito quimérico, como numa dor de cabeça ou em qualquer pensamento que nos domina e pode artisticamente exteriorizar-se. A obra de arte é a projecção, no exterior, da Fauna e Flora criadas na nossa intimidade.»

Teixeira de Pascoaes, O Penitente

Espero pelos vossos comentários

Crítica literária

   A minha apresentação oral foi sobre a crítica literária. Na minha apresentação eu falei sobre uma crítica feita a um livro de José Eduardo Agualusa ao seu novo romance, Barroco Tropical, o texto fala-nos de um dos grandes problemas que se passa no mundo, as diferenças entre as populações e dá-nos um grande exemplo que é Angola. Eu gostei de explicar a crítica pois gosto muito deste tipo de textos.
Acho que aprendi muito com esta apresentação e aquilo que reti durante a minha apresentação e durante o estudo da critica foi:
   A critica literária é um texto jornalistico que analisa obras literárias numa forma informativa e construtiva. A critica contém tanto aspectos positivos como negativos, esta deve ser feita por uma pessoa com conhecimentos literários, que neste caso foi Agripina Carriço Vieira. Acritica deve ter um título e depois um texto que se divide em 3 partes: introdução, desenvolvimento e conclusão.
   Para fazermos uma crítica baseamo-nos no tema, na ideia da obra, na linguagem usada, no interesse do enredo, na consetrução das personagens etc. A linguagem crítica deve ser clara e accesível. O crítico é subjectivo e recorre à ironia, ao sub-entendido e à metáfora. A crítica já nao é um texto que esteja muito ligado à literatura.


Henrique Cardoso Nº 12 10ºD

A Crónica

A crónica
v  A crónica é um artigo de opinião, concebido de uma forma livre e pessoal, da autoria de um jornalista ou de uma figura de reconhecido mérito, que se publica num jornal ou noutro meio de comunicação social.
v  A crónica é um texto subjectivo, na medida em que não tem como objectivo central informar.
v  A palavra «crónica» deriva da palavra grega «chronos» que significa «tempo», justificando a ideia de que o texto cronístico aborda assuntos do tempo e da época em que é escrito.
v  Num jornal ou numa revista, a crónica situa-se, habitualmente, numa coluna.
v  Existem também crónicas literárias, que, partindo dum assunto do quotidiano, constroem uma pequena narrativa, que se assemelha muitas vezes a contos.
v  A crónica é o texto jornalístico que mais se aproxima da literatura, visto que muitas vezes utiliza linguagem conotativa.
v  As crónicas são, frequentemente, compiladas para publicação num volume, como é o caso da colectânea de crónicas de Ricardo Araújo Pereira, publicada no livro “Boca do Inferno”.

O cronista
v  O cronista parte de um acontecimento actual ou de factos de um qualquer domínio da sociedade (política, cultura, economia, desporto, etc.) para, sobre o assunto, formular a sua opinião e fundamentá-la.
v  Por vezes, o cronista exprime na crónica determinado ponto de vista, procurando persuadir o leitor através de um discurso argumentativo.
v  O cronista assume uma posição crítica em relação a um assunto.

Estrutura
v  Embora a crónica não tenha uma estrutura fixa, o cronista opta, muitas vezes, pela utilização da organização tripartida – introdução, desenvolvimento e conclusão.
v  No entanto, por vezes, o cronista apresenta primeiro os factos que vai comentar para depois expor a sua opinião fundamentada sobre eles.
v  Noutros casos, os autores das crónicas apresentam os diferentes aspectos de uma situação, comentando cada facto de imediato, verificando-se uma sucessão: facto, opinião; facto, opinião.

Características
v  Exprime o ponto de vista do seu autor e é frequentemente escrita na primeira pessoa;
v  Deve ser dominada pelo discurso argumentativo, sem excluir a presença de discurso informativo;
v  Apresenta um estilo pessoal e diferente de autor para autor;
v  Exibe, por vezes, um discurso pontuado de um tom humorístico e/ou satírico.


Análise da crónica
«Uma Reflexão acerca de Lixo»
de Ricardo Araújo Pereira


Resumo
Na crónica «Uma Reflexão acerca de Lixo», Ricardo Araújo Pereira relata uma entrevista que fez à escritora Adília Lopes.
Nessa entrevista, Ricardo Araújo Pereira apresentou uma interpretação possível do poema de Adília Lopes, «Autobiografia Sumária». Disse-lhe que aquele poema também era o resumo da sua vida. Ele disse-lhe que os seus gatos - aquilo que nele era mais felino, arguto, crítico, perspicaz e até cruel - gostavam de brincar com as suas baratas - aquilo que nele era repugnante, negro rasteiro e vil. Esperava impressionar a escritora com a sua interpretação do poema. A escritora teve uma reacção à leitura do poema, que Ricardo Araújo Pereira não esperava. Adília Lopes disse-lhe que tinha gatos e baratas. Disse-lhe também que os seus gatos gostavam de brincar com as baratas.
Ricardo Araújo Pereira começa, então, a escarnecer de si próprio, comparando tudo o que é dele e tudo o que a ele lhe diz respeito, a lixo. Afirma que o seu “lixo” tem falta de carácter e de personalidade e que se insere na categoria dos indiferenciados. Por fim, apresenta a sua autobiografia sumária: «O meu lixo / é tão desinteressante / como eu.»


Estrutura
            Quanto à estrutura, esta crónica apresenta uma organização tripartida – introdução, desenvolvimento e conclusão. Embora estas três fases do texto não estejam delimitadas com parágrafos, como habitualmente acontece, pode dizer-se que a introdução é composta pela primeira frase, a conclusão é composta pela última e o desenvolvimento encontra-se entre as duas.


Características
  Esta crónica é escrita na primeira pessoa e exprime o ponto de vista do seu autor em relação ao poema de Adília Lopes e àquilo que é dele e que a ele lhe diz respeito, que compara a lixo. O cronista assume uma posição crítica em relação a tudo o que é dele e a tudo o que lhe diz respeito. Na escrita predomina o tom humorístico.



                                                                                                                                        J. Aragão

sábado, 13 de novembro de 2010


Os agentes da CHERUB têm todos menos de dezassete anos. Vestem calças de ganga e t-shirts, e parecem crianças perfeitamente normais… mas não são.
Eles são profissionais treinados, enviados para missões de espionagem contra terroristas e traficantes de drogas temidos internacionalmente.
Mas, para efeitos oficiais, estas crianças NÃO EXISTEM.

James é o mais recente recruta da CHERUB. É brilhante a matemática e a CHERUB precisa dele. Esperam-no cem dias de recruta.
A aventura está a começar...



" Um episódio a 100 à hora, e o início de uma série fantástica de aventuras - Se James sobreviver... " YOUNG POST


Só uma sugestão de uma colecção de livros muita boa e que me surpreendeu bastante.


                                                                                                                                       Afonso Ramos Bento Nº4 10ºD 13/NOV/2010

sábado, 6 de novembro de 2010

Narciso

Ironia e Provincianismo

«É na incapacidade de ironia que reside o traço mais fundo do provincianismo mental. Por ironia entende-se, não o dizer piadas, como se crê nos cafés e nas redacções, mas o dizer uma coisa para dizer o contrário. A essência da ironia consiste em não se poder descobrir o segundo sentido do texto por nenhuma palavra dele, deduzindo-se porém esse segundo sentido do facto de ser impossível dever o texto dizer aquilo que diz. Assim, o maior de todos os ironistas, Swift, redigiu, durante uma das fomes da Irlanda, e como sátira brutal à Inglaterra, um breve escrito propondo uma solução para essa fome. Propõe que os irlandeses comam os próprios filhos. Examina com grande seriedade o problema, e expõe com clareza e ciência a utilidade das crianças de menos de sete anos como bom alimento. Nenhuma palavra nessas páginas assombrosas quebra a absoluta seriedade, se não fosse a circunstância, exterior ao texto, de que uma proposta dessas não poderia ser feita a sério.
A ironia é isto.»

Fernando Pessoa, «O Provincianismo Português», in Textos de crítica e de intervenção

Namorado: Ter ou não ter eis a questão

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias de si mesmo.
Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, de saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado mesmo é muito difícil.
Namorado não precisa ser o mais bonito, mas aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida ou bandoleira; basta um olhar de compreensão ou mesmo afeição. Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter namorado.
Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho e quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos de amor com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugida ou impossível de durar. Não tem namorado quem não sabe o valor das mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Maraes ou Chico Buarque, lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer sesta abraçado, fazer compras juntos. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados pela alegria e lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperama, beira d’água, show de Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonho ou musical da Metro. Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não chateia com o fato de seu bem-querer ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar.
Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim-de-semana, na madrugada ou meio dia de sol, em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações, quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo. Se você não tem namorado é porque não descobriu que o amor é alegre e vive pensando duzentos quilos de grilo e de medo, ponha saia mais leve: aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternura e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com o gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fadas. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e de cima descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galantearia.
Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido.
ENLOU-CRESÇA.

Carlos Drummond de Andrade

Autobigrafia

Género literário em prosa que consiste na narração ulterior do percurso existencial de um indivíduo pelo próprio.
O lexema complexo autobiografia é de origem alemã (Autobiographie), tendo sido pela primeira vez usado em 1789, por Friedrich Schlegel. A partir de 1800, surge com frequência na maior parte das línguas europeias. Esta formação do lexema resulta, em grande medida, do impacto que em toda a Europa tiveram as Confessions, de Rousseau, arrastando consigo o reconhecimento da existência de um novo género literário, num momento em que, aliás, se assistiu a uma verdadeira eclosão de géneros literários intimistas [o diário, as memórias (memorialismo), as narrativas de viagens, p. ex.]. Este novo género, porém, de acordo com a maioria dos estudiosos, não tem a sua origem nas referidas Confessions, mas sim nas Confissões, de Santo Agostinho. […]
A autobiografia, enquanto narração posterior e contínua distingue-se do diário, género fragmentário e não exclusivamente narrativo; das memórias, género em que a intenção documental articula o eu com o seu contexto histórico-cultural; das confissões, género que, originário da «literatura espiritual», conserva, na cultura secularizada dos nossos dias, a dimensão ética e judicativa própria da contrição; e ainda de certos géneros que lhe são tangenciais, como a epistolografia, a crónica, os relatos e diários de viagem. […]
Esta delimitação, nem sempre nítida, complica-se se fizermos intervir na análise um género como o romance autobiográfico, que vem fragilizar a coincidência de identidade entre personagem central, narrador e autor, ou seja o «pacto autobiográfico» apontado por Philippe Lejeune como critério distintivo da autobiografia. A questão, bastante complexa, ajuda a compreender as razões que conduziram a que a autobiografia seja hoje um dos géneros mais estudados e teorizados, já que ela levanta problemas recenseados já por Aristóteles – a relação entre realidade e ficção, por exemplo. […]
A teoria da autobiografia, […] terá passado por três etapas correspondentes aos elementos constituintes do lexema: o autos, o bios, e a graphé. Inicialmente, a crítica vê nos textos autobiográficos uma reprodução fiel da vida (bios). Na segunda etapa, em que a atenção se centra no autos, a autobiografia é vista como re-criação mais do que como reprodução. […] Finalmente, analisando a graphé, a crítica […] insistirá em que a fronteira entre autobiografia e ficção é de demarcação impossível.

Osvaldo Silvestre, «Autobiografias», in Biblos, Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa, Lisboa/S.Paulo, Verbo, 1995

Diário

O diário é um dos géneros da literatura autobiográfica mais comummente cultivados, pois é confidente tanto do homem público como do homem privado, tanto do escritor ilustre como do adolescente fechado no seu quarto ou da mulher a quem, ao longo da história literária, nem sempre esteve aberto o acesso à publicação.
O estatuto do diário é o da confidência: extroversão da vida íntima para um «amigo», o caderno de notas. Como na confidência, a relação entre o eu e o diário define-se pela contradição entre a vontade de falar e a de guardar segredo. O diário funciona de facto, muitas vezes, como interlocutor: quantos diaristas conversam com o seu diário, interpelando-o mesmo! Outras vezes, o diário funciona como sucedâneo dum interlocutor real, à falta dele ou por incapacidade de um relacionamento normal com outrem. No primeiro caso, […] o diário nasce de uma situação de isolamento. Escreve-se diário na prisão, quando se está privado de outro tipo de comunicação. Escreve-se diário a bordo, ou durante uma doença, ou no exílio. No segundo caso, o diário é igualmente o parceiro por excelência do diálogo.
Mas o diário pode não ser apenas um caderno de confidências. Pode voltar-se para o exterior e albergar impressões de viagem, comentários de leituras, reflexões políticas, estéticas, morais, etc. […] Por essência espaço de fundação e reconhecimento do eu, o diário pode tornar-se exercício intelectual e oficina de ideias. Nascendo duma situação unilateral de comunicação, em que o destinador e o destinatário são uma e a mesma pessoa, ele pode transformar essa situação em partilha com os outros. A prática diarística é, assim, o lugar dum duplo movimento, de interiorização e de exteriorização. Com a publicação, o texto é introduzido no sistema de consumo colectivo, perdendo o seu estatuto privado. O diário íntimo deixa de o ser, por vontade do seu autor ou por vontade alheia. Para os mais radicais, a publicação de um diário é uma contradição. […]
Mas, mesmo que se quebre a intimidade, pode ainda manter-se no texto um «efeito de intimidade». O estilo menos elaborado, por intenção ou por negligência, contribui para tal efeito, bem como o uso de iniciais para designar nomes de pessoas ou lugares, um menor grau de discursivismo, as formulações elípticas, etc. […]
A descontinuidade, o fragmentarismo são sinais distintivos do diário, que imediatamente o diferenciam da narrativa autobiográfica. O diário obedece a um modelo de narração intercalada, isto é, de enunciação que alterna com o acontecimento dos factos narrados. A datação das notas é um modo de significar essa construção fragmentada e sempre recomeçada. […]

Clara Rocha, Máscaras de Narciso, Coimbra, Almedina, 1992, pp.28-32

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O Carácter do Jovem

Depois do que dissemos, vamos tratar dos tipos de carácter, segundo as paixões, os hábitos, as idades e a fortuna. Por paixões entendo a ira, o desejo e outras emoções da mesma natureza de que falámos anteriormente, assim como hábitos, virtudes e vícios. Sobre isto também já falámos antes, e que tipo de coisas cada pessoa prefere e quais as que pratica. As idades são: juventude, maturidade e velhice. Por fortuna entendo origem nobre, riqueza, poder, e seus contrários e, em geral, boa e má sorte.
Em termos de carácter, os jovens são propensos aos desejos passionais e inclinados a fazer o que desejam. E de entre estes desejos há os corporais, sobretudo os que perseguem o amor e face aos quais os jovens são incapazes de dominar-se; mas também são volúveis e rapidamente se fartam dos seus desejos; tão depressa desejam como deixam de desejar (porque os seus caprichos são violentos, mas não são grandes, como a sede e a fome nos doentes). Também são impulsivos, irritadiços e deixam-se arrastar pela ira. Deixam-se dominar pela fogosidade; por causa da sua honra não suportam que os desprezem e ficam indignados se acham que são tratados injustamente. Gostam de honrarias, mas acima de tudo das vitórias (até porque o jovem deseja ser superior e a vitória constitui uma certa superioridade). Estas duas características são neles mais fortes do que o amor ao dinheiro (gostam pouco de dinheiro porque não têm ainda experiência da necessidade, como diz o apotegma de Pítaco em resposta a Anfiarau). Não têm mau, mas bom carácter, porque ainda não viram muitas maldades. São confiantes, porque ainda não foram muitas vezes enganados. Também são optimistas, porque, tal como os bêbedos, também os jovens sentem calor, por efeito natural, e porque ainda não sofreram muitas decepções. A maior parte dos jovens vive da esperança, porque a esperança concerne ao futuro, ao passo que a lembrança diz respeito ao passado; para a juventude, o futuro é longo e o passado curto; na verdade, no começo da vida nada há para recordar, tudo há a esperar. Pelo que acabámos de dizer, os jovens são fáceis de enganar (é que facilmente esperam), e são mais corajosos [do que noutras idades] pois são impulsivos e optimistas: a primeira destas qualidades fá-los ignorar o medo, a segunda inspira-lhes confiança, porque nada se teme quando se está zangado, e o facto de se esperar algo de bom é razão para se ter confiança. Também são envergonhados (não concebem ainda que haja outras coisas belas, pois só foram educados segundo as convenções). Também são magnânimos porque ainda não foram feridos pela vida e são inexperientes na necessidade; além disso, a magnanimidade é característica de quem se considera digno de grandezas; e isto é próprio de quem tem esperança.
Quanto à maneira de actuar, preferem o belo ao conveniente; vivem mais segundo o carácter do que segundo o cálculo, pois o cálculo relaciona-se com o conveniente, a virtude com o belo. Mais do que noutras idades, amam os seus amigos e companheiros, porque gostam de conviver com os outros e nada julgam ainda segundo as suas conveniências, e, portanto, os seus amigos também não. Em tudo pecam por excesso e violência, contrariamente à máxima de Quílon: tudo fazem em excesso; amam em excesso, odeiam em excesso e em tudo o resto são excessivos; acham que sabem tudo e são obstinados (isto é a causa do seu excesso em tudo). Cometem injustiças por insolência, não por maldade. São compassivos, porque supõem que todos os seres humanos são virtuosos e melhores do que realmente são (pois medem os vizinhos pela bitola da sua própria inocência, de tal sorte que imaginam que estes sofrem coisas imerecidas). Gostam de rir, e por isso também gostam de gracejar; com efeito, o gracejo é uma espécie de insolência bem-educada.

ARISTÓTELES, Retórica