sábado, 27 de outubro de 2012

'Non', ou a Vã Glória de Mandar [Filme Completo]

Mensagem Um


Agostinho da Silva, Um Fernando Pessoa
 MENSAGEM UM

Àqueles a quem, não querendo mal, também especialmente não amam concedem os deuses uma vida fácil e benigna, que os faz, a eles e aos restantes, acreditar em protecção celeste; aos outros, porém, àqueles cuja carreira se vê essencial aos destinos do mundo, vendem os deuses, e bem caro, todos os dons de que os cumularam; e, porventura, o preço mais alto que reclamam de sua mercadoria é o de, a cada momento realmente importante da vida, nada disporem como que de maneira fatal, deixando que o seu amado possa, em plena liberdade, escolher o que mais é de seu agrado; e aqui a maior parte se perde: porque à chama que os tornaria celestes preferem a temperada medianidade que para sempre os prende à Terra.
Começa logo a escolha pela Pátria. Para a grande maioria dos homens, se apresenta a Pátria apenas como um acidente ou um acaso físico: são de onde nascem, e, a pouco e pouco, a convivência dos pais, de seus conterrâneos, mais tarde a Escola e o estado, os dois grandes organismos encarregados essencialmente de não deixar ninguém escapar das malhas do exército social, os vão gradual e realmente convencendo de que não poderiam ter nascido noutro lugar e de que uma escolha futura que livremente pudessem fazer representaria sempre e de qualquer modo uma diminuição ou uma traição. A outros, no entanto, e porque são amados dos deuses, se apresenta o caso de modo diferente: a vida, mostrando à superfície, como circunstância, o que é meditado e deliberado propósito de quem rege a História, os encaminha à escolha que decidirá os seus destinos: o de resplandecer num véu de glória, que é quase sempre, visto por dentro, um véu de lágrimas, ou o de ser jogado fora como um vaso de oleiro que mentiu, pela má qualidade do barro, à diligente regularidade da roda e à inventiva agilidade do gesto. Quem pode, em raro jogo, escolher o seu País por aí mesmo está escolhendo a sua vida: uma vida que dele mesmo se vai alimentar.
Para Fernando Pessoa, cuja existência se iria desenrolar, tanto quanto se poderia prever, no Portugal de seus tempos, isto é, no ponto mais baixo que poderia atingir a descendente curva da austera, apagada e vil tristeza, a alternativa apresentada foi a mais tentadora que se poderia imaginar: a da Inglaterra, e a de uma Inglaterra apreendida na sua história e na sua cultura. Por uma daquelas pequenas resoluções que movem depois as grandes molas, poderia Fernando Pessoa ter passado inteiramente ao domínio inglês e nele se afirmado como um homem de Império, já que o encontro se cumpria na África, ou como um homem de Universidade, já que o encontro era igualmente num ambiente à Walter Pater, com imaginários retratos de Inglaterra elisabeteana mascarando uma outra que apenas procurava colocar seus capitais e manter pela força os seus mercados. Numa ou noutra carreira, teria Fernando Pessoa sido célebre: as críticas a seus poemas ingleses seriam apenas o prenúncio do que outros críticos viriam a escrever; um outro Conrad, noutro domínio, se incorporaria à literatura inglesa; apenas isso, porém.
O que, no entanto, acontecia era que iam mais alto as ambições de Pessoa e penetrava a sua inteligência mais longe do que a dos estadistas ingleses. Era o mundo mais nobre, mais humano e mais divino, do que o supunha a Inglaterra e jamais se resignaria a aceitar como permanente, apesar de todas as suas excelências sobre os outros, apesar de não ter constituição escrita, apesar de tender já a uma Comunidade de nações livres, um império que, na base de tudo, mantinha as duas noções e invenções diabólicas da força e do lucro. No fim de contas, o melhor que a Inglaterra lançava sobre o universo já Portugal o fizera, muito antes dela; e Portugal porque não era de nenhuma Igreja reformada, porque se mantivera fiel a Roma e à fraternidade católica, porque nunca fora sequaz de uma ciência que tendia apenas a dominar, de uma economia que tendia apenas a explorar e de uma política que não era outra coisa senão de origem maquiavélica, deixara aberta, apesar das suas falhas, uma esperança para o futuro: a de que o seu império do mar fora apenas o primeiro passo, por isso mesmo ainda físico e político, de uma acção que depois a Europa, incompreensiva como sempre, lhe viria cortar: a de trazer para o mundo aquele Reino que milhões de homens quotidianamente imploram em vão.
Vai, pois, Fernando Pessoa, deliberadamente, confirmar o acaso físico: vai nascer português porque tem a convicção de que Deus não pode abandonar seu outro povo eleito e de que, passado o domínio da Europa, quando a técnica tiver esgotado todas as suas possibilidades, quando a economia protestante se verificar plenamente anti-humana, quando a centralização estatal se revelar estéril, Portugal virá de novo construir o seu mundo de paz, por maior que tenha de ser o seu sacrifício: mundo de uma paz que não surja como a Romana ou a Inglesa, do exterior para o interior, de um César para os seus súbditos, dos tribunais para os corpos; paz que se realize antes de tudo nas almas, lei que seja inteiramente não escrita e, no melhor de si, informulada; Reino de Deus que surja pela transformação interior do homem.
É como uma justificação e uma explicação deste seu acto fundamental de vida que Fernando Pessoa, pacientemente, vai durante quase duas dezenas de anos escrevendo Mensagem, sem dúvida a mais importante de suas obras plenamente emparelhando com Fernão Lopes, Os Lusíadas, D. João de Castro e a História do Futuro na compreensão do que verdadeiramente é Portugal; pela inteligência e entendimento fundamentais que enformam toda a obra e por ter posto mais claro do que Camões na Ilha dos Amores a concepção de um verdadeiro Império Português ou Quinto Império, veríamos até Mensagem como de importância superior à dos Lusíadas: no total, o não é, porque inutilmente procuramos na obra de Pessoa traços daquela espantosa e eloquente vitalidade de Camões, daquela ígnea personalidade que em si ardendo destruía todos os círculos limitadores que ele próprio ou os outros tentavam traçar à sua volta; a diferença que há entre Camões e Pessoa é a diferença que há entre um homem e a sua inteligência: mas esta, em Pessoa, mais clara e penetrantemente brilhava; foi mais compreensiva quanto ao Passado estático e ao Passado dinâmico, tão incisiva como a de Camões quanto ao Presente e muito mais aguda na previsão do Futuro.
A primeira ideia que nos dá Pessoa é a de que há um certo passado de Portugal que não é de natureza puramente histórica: é apenas uma revelação no passado do que é em Portugal uma perenidade; o apuramento dessa perenidade constitui o conteúdo da primeira parte do poema, aquilo a que Pessoa chamou justamente Brasão, mas que não é para ele brasão de túmulo, ou brasão daqueles palácios em ruínas que foram obsessão de Gomes Leal: o seu Brasão é a nobreza em cerne, é a essência do ser fidalgo de Portugal. Quando agir, será no Passado, a segunda parte do Poema, Mar Português, e, no Futuro, a terceira parte, O Encoberto. Brasão terá como lema Bellum sine bello: é a potência sem o acto, a energia sem a matéria, a História sem o tempo: Deus, vendo Portugal em Si eterno, escreveria Brasão. Mar Português é o acto que não esgota a potência, a matéria que não apaga a energia, o tempo que não liquida a História: por isso é apenas a Possessio Maris que o Poeta lhe deu por lema: é Portugal podendo apenas uma mínima parte do que pode; não se entregando todo e, portanto, apenas possuindo; em Mar Português, Portugal Tem, não É. Em O Encoberto, porém, toda a sua grandeza se revela: e o descerramento desta sua glória é quase a renovação, agora de homens para homens, do clamor antigo dos anjos, quando o Céu fez, por uma Terra que deles se desaviera, o sacrifício supremo de si próprio: Pax in excelsis; paz nas alturas em que o homem, indo além de si mesmo, se faz Santo; não a paz em que o homem, rendendo-se, organiza, explora e defende sua própria baixeza.
Em Brasão, Portugal é o rosto com que a Europa fita um Ocidente que, ao plenamente ser, justificará todo o passado de miséria que a humanidade tiver atravessado; a missão de Portugal não poderá ser outra senão a de resgatar o que a Europa fez e de a salvar a seus próprios olhos; por isso o seu campo, o dos Castelos, é o que serve de base ao das Quinas, o das Chagas de Cristo, este o campo próprio de Portugal: é expirando na cruz, esgotando-se no seu sangue e na sua piedade, que Portugal poderá salvar o mundo. No dos Castelos, porém, Portugal porá, como seu alicerce, o que de mais fundamental a Europa poderá ter dado ao mundo: com Ulisses, a ideia de que o mito é mais importante do que a realidade, de que o poder vir a ser é o substracto do que é, de que as coisas morrem à medida que são; com Viriato, a de que a verdadeira força propulsora da vida não é a inteligência, mas a reminiscência, e de que o ponto criador não é a definição, mas o pressentimento; com o Conde D. Henrique a de que a acção, se Deus é o agente, se faz para além das intenções e das possibilidades do herói, consistindo o heroísmo apenas em não se recusar o que não se compreende; com D. Tareja, juntamente com a da contemporaneidade do temporal e do eterno, a de que o dever perante a obra consiste em a ela se dedicar com a bruta e natural certeza com que a mãe amamenta a seu filho; com D. Afonso Henriques, a de que, para se vencerem infiéis, só vale uma indefinível arma, que, espinosianamente, tenha como um dos aspectos o da espada e como outro o da bênção, como um, o do corpo, como outro, o do espírito; com D. Dinis, a de que a intuição poética vale mais do que o plano; com o sétimo castelo, o que junta D. João e D. Filipa, o que se afirma é que a História, ao ser, toma dois aspectos: o do homem e o da obra, sendo as modificações de qualquer desses o reflexo das modificações do outro; e ainda, que o milagre da concepção humana consiste em que cada filho, sendo de seus pais, não tem ao mesmo tempo nada que ver com eles: a cada nova geração reafirma o Espírito Santo a liberdade de criar. A Europa em que Portugal assenta não é, felizmente, a Europa cartesiana.
Se a força de alicerce de Portugal vem de ter afirmado a sua existência de uma Europa que duas vezes se perdeu de si própria, primeiro na Idade Média grega, depois na Idade Média Ocidental, a sua força de salvação virá de, voluntariamente, ter incluído em seu brasão as chagas de Cristo, não pintando-as apenas, mas consubstanciando-as em gente sua: primeiro em D. Duarte, o mártir do dever; depois em D. Fernando, o mártir da grandeza de alma, superior sempre a seu destino; e em D. Pedro, o mártir da fidelidade a uma ideia claramente pensada e claramente sentida; e em D. João, o mártir de não querer senão o todo, ou o seu nada; e, finalmente, em D. Sebastião, o mártir do sonho de grandeza que está para além das circunstâncias históricas. Coroando os campos, a santidade activa de Nuno Álvares, a sua pureza guerreira, o halo que no céu gravam suas acções terrestres; e, numa afirmação final da energia que a tudo subestá, o Grifo com sua cabeça de águia adivinhando o mundo como um perfeito globo, ou melhor, obrigando o mundo a ser o globo que pensava; com uma de suas asas rasgando o firmamento num sulco de vontade, com a outra das asas o rasgando num sulco de poder.
Sobre a base teórica de que a vontade de Deus desperta o sonho do homem e de que o sonho do homem provoca o surgimento da obra, e afastando por aí, para explicar a História, tudo o que sejam causas espirituais ou materiais limitadas ao círculo humano, e pondo nitidamente, logo no primeiro poema, que a história que vai contar, a da Possessio Maris, não é a História de Portugal, mas apenas o seu interrompido prólogo, Pessoa dá o que foi o encantamento máximo dos navegadores, o de transformar o abstracto em concreto; o que foi basilar em sua actividade, a convicção de que só em Deus, como último porto de repouso; a vontade de um Rei de carácter sacramental que, faz, ao mais humilde dos homens, poder mais do que todos os medos do mundo; a glória de ter mostrado que o mar é sempre o mesmo e que a sua posse nada significa de vital; o sentimento de que o que vale na empresa de buscar é a busca e não o encontro; o mérito de ter sido o corpo da vontade de Deus, de ter sido o Tempo da Eternidade a revelar; o impulso que irá conduzir a história para além dos que o lançaram; a consciência de se ter realizado, no mundo físico, e sem nisso estar verdadeiramente empenhado, a mais alta façanha de que os homens se podem orgulhar; o ter ensinado que toda a descoberta se faz apenas quando se tem a coragem de passar além dos domínios da alegria e da dor; por fim, em Última Nau e Prece, a certeza de que, embora tenha vindo a noite e seja vil a alma, Deus ainda reserva para o seu povo Distância a conquistar.
É essa Distância como distante, é essa conquista como inconquistável o que, em O Encoberto, se anuncia pelos Símbolos, pelos Avisos, o último dos quais é o do próprio Fernando Pessoa, e se afirma triunfantemente através do negrume dos Tempos. Portugal, completando a sua obra, dará ao mundo o seu íntimo Império feito de anseios, de lonjuras, de Reinos ilocalizáveis em tempo ou espaço, o seu reino de alma humana continuamente sendo e continuamente ansiosa de mais ser, tendo-se inteiramente desprendido das ilusões de uma afirmação puramente pessoal e de uma pessoal felicidade; o mar bate nas costas do Império, mas, se o escutarmos, pára; decerto, porém, um dia, desistindo do nos opormos ao mundo, não mais o quereremos escutar; então, através de todo o nevoeiro, pelo próprio nevoeiro, terá surgido a Hora; o Encoberto, em milagre supremo, se descobrirá.


Mensagem Dois

Sem se mexer, nem sequer por dentro, como dele dizia Álvaro de Campos, Fernando Pessoa agudamente se observa a si mesmo e ao grupinho que com ele tinham formado os três poetas. Era o conjunto de mais penetrante inteligência, de maior capacidade de ironia, de menor provincianismo que jamais se constituía em Portugal; no entanto, tendo tão superiormente ultrapassado a vida, podendo, por exemplo, dizer a um Sá-Carneiro que o não achavam completamente civilizado, podendo tratar a sociedade portuguesa do tempo com o desembaraço, o desdém e a agressividade com que a trataram – apenas, de onde a onde, com algumas ingenuidades, como a de propor Mensagem a políticos cuja característica essencial era a de não serem nem imperiais, nem proféticos, nem épicos mas chapadamente pedestres, retrógrados, locais – o certo era que afinal o meio ambiente acabava por os vencer, com as bebidas, o fumo e os cafés de Fernando Pessoa, o exílio sem glória de Ricardo Reis, a morte prematura de Alberto Caeiro, e é fora de dúvida ser a tuberculose uma doença de ambiente, e o cansaço permanente de um Álvaro de Campos. O que os abatia e afinal os unia num mesmo denominador era essa falta de uma energia que todos louvaram e todos punham como o bem mais desejável de todos os bens, mas que apenas lhe dava para escreverem seus panfletos de várias formas e os comentarem ou comentarem os dos outros à volta das mesas do Martinho.
O grito de ter vindo a noite e de ser vil a alma era afinal o grito de todos, mas nenhum tinha a coragem prática de agir. Era como se o acontecimento histórico que emasculara a Nação os tivesse emasculado também a eles; era como se a Europa socrática e renascentista, vingando-se de todo o desprezo cultural e político a que sempre Portugal a tinha votado; vingando-se daquele soberbo desdém que Fernando Pessoa melhor que qualquer outro exprimira em Mensagem, o desdém pelo estrangeiro que apenas achara o que no encontrar português só por destino não fora achado; vingando-se daquela autonomia religiosa que construiria a Trindade vivida de Santa Maria, o Menino Jesus e o Espírito Santo, em oposição a uma teologia pensada que tanto conservara de judeus, gregos e romanos; era como se ela, entrando na Península pela mão de Carlos V e com o caminho preparado para erros anteriores, tivesse dado o golpe fundamental para acabar de vez com os homens que jamais desprendiam suas mãos do leme ou que tendo na mão a pena somente a manejavam nos repousos da espada ou conservavam debaixo dos buréis os arneses vestidos. E tão separados tinham para sempre ficado os portugueses de seus antepassados que, mesmo quando um acaso interno os lançava aos antigos caminhos, não mais os conheciam: Fernando Pessoa estivera em África e a África se mascarara de Inglaterra; Álvaro de Campos estivera no Oriente e o seu Oriente fora Port Said e não Ormuz, fora um conde francês e não um Fernão Mendes; Alberto Caeiro estivera no Ribatejo e o seu Ribatejo nunca fora o de Giraldo nem o de Alfarrobeira; e Ricardo Reis, partindo para o Brasil, não soubera encontrá-lo.
O poder de esmagar de tal forma o que fora a Nação mais original do Ocidente e a de mais larga e profunda missão em todo o mundo só poderia ter sido dado à Europa por um grande acerto ou por uma grande tentação; para Fernando Pessoa a ideia de grande acerto não poderia existir, poruqe detestava a América do Norte e a Rússia e não podia deixar de vê-las como o perfeito fruto da mentalidade europeia; tinha por conseguinte de se voltar para a ideia de uma tentação diabólica, mais temível do que a de quedas anteriores, e de que a humanidade só possivelmente se veria redimida por um novo sacrifício, provavelmente pelo sacrifício de Portugal como nação. Essa tentação não podia ter deixado de ser a da eficiência, e a da eficiência vista não como serviço prestado aos outros, mas como uma afirmação da própria superioridade: como da outra vez, o Diabo pegara o pecador pelo Orgulho. E passava de coincidência interessante a necessidade lógica que, tendo o palco da nova tentação e da nova queda sido a Alemanha, fosse exactamente Carlos V quem tivesse vindo emascular a Espanha e Portugal; mais a este, como inimigo fundamental porque afinal Castela sempre tivera suas pretensões a Prússia da Península.
O golpe essencial a favor da eficiência tinha sido o de ver a sociedade como uma máquina de produção, em que cada qual tem de ocupar o seu lugar e de se desempenhar de suas tarefas com o máximo de obediência a uma organização central; para que isso se conseguisse tinham-se apurado as instituições estatais, eclesiásticas e escolares pondo-as, no máximo que era possível, ao serviço dos produtores. De todas elas, as que porventura tinham custado maior mal eram exactamente as escolares, porque a sua missão consistia em fazer durar o menos possível a criança, de modo a ter, para produzir, um maior número de adultos: é por isso que é inteiramente errado dizer-se  que, na época de sua revolução industrial tinha a Inglaterra no serviço das minas crianças de cinco anos; o que ela tinha trabalhando era uma coisa muito mais monstruosa: eram adultos de cinco anos de idade.
De então para diante em nada mais se mudou, na grande massa da educação, senão nas técnicas de fabricar adultos pelo assassínio das crianças; a humanidade de jeito ocidental pratica em grande escala o infanticídio do espírito, apenas o punindo quando é físico porque isso lhe rouba definitivamente a matéria-prima do adulto. Aquelas crianças que várias vezes Fernando Pessoa apontou como a melhor coisa que há no mundo, aquele Menino eternamente criança e humano que era Alberto Caeiro o Deus verdadeiro e supremo que faltava no universo, a essas diariamente as sacrificam nas nossas escolas, diariamente as crucificam, diariamente as imolam nas aras da Eficiência. O que permitiu à Europa dominar Portugal, chegando ao extremo de lhe apresentar o que há de mais estrangeiro, de mais alheio à índole nacional, como inteiramente nacionalista, foi o pecado de ter levantado como valores supremos de vida humana os do adulto, o saber, o trabalho e aquela separação de sujeito-objecto que permite a filosofia, a ciência e a técnica. A Europa se vendeu ao Diabo e o dinheiro que nisso ganhou lhe serviu para comprar Portugal.
E, comprando-o, destruiu o último refúgio que ainda poderia haver no mundo para as qualidades distintivamente humanas, as da imaginação, em vez do saber, do jogo, em vez do trabalho, da totalidade, em vez da separação; são essas e não as outras as que têm demonstrado os grandes criadores de ciência, os grandes artistas, ou os grandes políticos: por isso os perseguimos quando vivos e os aproveitamos, porque já eficientes, quando seguramente mortos. Não haverá salvação para o mundo enquanto não entendermos e fizermos penetrar me nossas consciências este facto basilar, e enquanto as nossas escolas, transformando-se inteiramente, não forem, em lugar de máquinas de fabricar adultos, viveiros de conservar crianças; enquanto não forem as crianças que nos levem, não pelo caminho que uma ciência fáustica previu, mas pelo que houver, dando a mão, ao mesmo tempo, a nós e às coisas: enquanto não for o Menino Jesus nosso Deus verdadeiro.
É evidente, no entanto, que a escola é apenas um dos elementos de um sistema; a pedagogia está ligada à sociologia, à economia e à teologia racionais por laços muito mais íntimos do que se pensa; tudo são fabricações de adultos. Pensam eles, os pobres, que pode jamais haver no mundo alguma forma satisfatória de governo organizado, de economia organizada ou de discurso do sobrenatural, a não ser que os pensemos sempre dentro de um mundo de adultos: fora dele, num universo de qualidades infantis, num Paraíso, e é por isso, porque os adultos aí eram crianças que não havia crianças como Adão e Eva, e só as houve depois que, para podermos comer e se vestir, principiaram eles a ser adultos, - num Paraíso, todo o governo que não for amar será absurdo, toda a economia que não for colher será absurda, toda a teologia que não for contemplar será absurda.
Poderia parecer que por este caminho se poderia Fernando Pessoa opor a todo o crescimento da técnica; mas é técnico Álvaro de Campos nos melhores momentos de si próprio e, se não exerce a sua profissão, é decerto pelos seus arrebatos melancólicos, mas também porque se não percebe um engenheiro naval num País que não mais constrói navios – embora possa, como a Holanda, fabricar paquetes ou cargueiros: e o grupinho de Pessoa sabe perfeitamente através dele que é exactamente pela técnica, mas pela técnica tomada como um jogo geral e não como um meio individual de ganhar dinheiro ou poder, que pode o homem abrir o seu caminho de regresso ao Paraíso: mas, para tomar a técnica como um jogo, é preciso que se seja anteriormente criança: a conversão religiosa ao Menino Jesus deve preceder a revolução social. O contrário seria materialismo, coisa de padres sem religião, como dizia Alberto Caeiro; o que também se poderia afirmar da religião que avassalou Portugal a partir do século XVI.
Ligando os pecados da Europa ao que foi Portugal antes de a noite vir, poder-se-ia pensar que o D. Sebastião da Mensagem, o Encoberto, o que há-de voltar na manhã de mais cerrado nevoeiro, quando toda a esperança parecer perdida, é ao mesmo tempo o Menino que jamais se resignou a ser adulto no Rei de Alcácer e o Menino que jamais se resignou a ser adulto nos melhores homens do mundo; a grandeza qual a Sorte a não dá seria, não a grandeza deste mundo em que logo se pensa, mas a grandeza do Reino que Jesus afirmava ser o seu e que seria povoado dos pequeninos que a si chamava e que apontava como modelo a seus discípulos; e à volta de D. Sebastião, iniciando no mundo o novo Império, cada homem e cada mulher, redimindo-se de ser adultos, iria oferecer a um Deus também Menino, libertado finalmente de sua Cruz e de seu distante Céu, o seu ramo infantil de contempladas flores.
É por esse Império, que nem ele nem os e seus companheiros têm a coragem ou a força ou a hora de construir, porque numa história movida por Deus tudo vem a ser o mesmo; é por esse Império, que não tem lugar marcado nos mapas porque vive no sorriso, no olhar, nos sonhos dos meninos; é por esse Império, que se tornará consciente ou inconsciente a nós, como se torna consciente ou inconsciente a uma criança o que, dormindo, a faz sorrir; é por esse Império, que só poderá surgir quando Portugal, sacrificando-se como Nação, apenas for um dos elementos de uma comunidade de língua portuguesa; é por esse Império, que já foi aurora de realidade e que hoje é apenas cavo passo que se escuta em palácios desertos, que Fernando Pessoa pensa, escreve, concebe génios, sofre recolhido e ignorado morre. Mas sobre ele reina, como já reinou sobre nós outros, aquele Menino Imperador que, em oposição ao Imperador germânico, o Imperador dos adultos, e iniciando seu Império pela abertura das prisões e pela abundância para os pobres, coroavam, por amor do Futuro, os portugueses do melhor tempo; e que ainda hoje coroam os homens de Santa Catarina, entre os quais vivo e escrevo: aqui, também, esperemos, por amor do Futuro.    

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Valor simbólico dos casamentos

Este episódio passa-se nas estrofes 83 e 84 do canto IX. Estes casamentos apresentam o a junção proibida entre marinheiros e ninfas. Este casamento com as ninfas é como que uma recompensa para os marinheiros portugueses por terem enfrentado e ultrapassado todas as dificuldades e consequentemente chegado à Índia. Esta recompensa é como também um reconhecimento apropriado dos portugueses, aliás o único visto que em Portugal ninguém apreciava os seus feitos como deve de ser. Esta recompensa divina proporcionada por Vénus torna-se o ponto alto da consideração pelos portugueses e pela sua chegada a Calecute.

Henrique Olim Cardoso Nº11 12ºD

História de Leonardo

A história de Leonardo passa-se no canto IX nas estrofes 75 a 84. Leonardo é um soldado português bastante amigável e amoroso, no entanto a sua vida esteve repleta de desgostos de amor. No entanto na ilha dos amores viu uma hipóteses de mudar esse destino terrível no que toca ao amor. Andava atrás de uma ninfa, Efire, que era a ninfa mais difícil de conquistar. Leonardo vai-se lamuriando da sua vida e do seu destino e pede a Efire para não acreditar no destino. A ninfa foge-lhe cada vez mais depressa e Leonardo continua a seduzi-la a partir da palavra. Até que a ninfa cai aos seus pés. E Leonardo enche-se por momentos de felicidade como nunca antes lhe tinha acontecido.

Henrique Olim Cardoso Nº11 12ºD

Episódio da tempestade

As estrofes 70 até 94 do canto VI apresentam-nos o episódio da tempestade, que ocorre na viagem de Melinde para Calecute. Os portugueses estão quase a chegar à Índia, no entanto vêm-se envolvido num contra-tempo. Baco e Neptuno com o poder dos ventos e da água tentam deitar a baixo os esforços dos portugueses fazendo aparecer uma tempestade. As naus ficam assim todas inundadas e desesperados os portugueses vêm-se obrigados a atirar tudo ao mar. Paulo da Gama tem a sua nau quase destruída. Nunca os deuses mostraram tamanha crueldade com o objectivo de contrariar o destino. Vénus manda as ninfas para acalmarem os ventos a pedido de Vasco da Gama, após a tempestade ter terminado os portugueses avistam Calecute e ficam novamente esperançosos.

Henrique Olim Cardoso Nº11 12ºD

Episódio de Fernão Veloso

Vasco da Gama e os portugueses desembarcaram numa terra espaçosa. Começaram a explorar a nova terra procurando marcá-la nos mapas, pensando ter já atingido a sua meta, Calecute. Os marinheiros aventuram-se para a floresta à procura de indígenas ou algo de novo interessante. Mais tarde voltam com um negro que haviam capturado. Os portugueses mostraram-lhe pedras preciosas, pratas, coisas de ouro etc. Mas este recusou-as não mostrando alegria ao vê-las. É então que lhe mostram peças de baixo valor, como um barrete vermelho com um guizo. Ao verem o negro bastante contente deixam-no ficar com aquilo e ir-se embora. No dia seguinte o negro apareceu com mais indígenas para irem buscar as suas peças. Fernão Veloso ao ver o povo tão amistoso segui-os aventurando-se por terras desconhecidas.  Chegou a uma altura da montanha em que os negros não o deixaram continuar ameaçando-o de morte obrigando-o a fugir. Com os negros no seu alcance apareceu na praia e os marinheiros portugueses saíram no seu socorro. Os portugueses viram-se obrigados a contra-atacar visto que os negros vinham com pedras. Tendo já Fernão Veloso a salvo tomaram o seu caminho para a Índia. Já no barco os marinheiros aproveitam para gozar com a situação. Dizendo que descer a montanha é mais fácil que subir.

Henrique Olim Cardoso Nº11 12ºD

Garantia do voto


“A garantia do voto universal é suficiente para podermos dizer que vivemos em democracia”
Democracia. Já há mais de uma centena de anos que vivemos sobre um regime democrático, foi a 5 de Outubro de 1910 que a mesma foi implantada. Democracia é um regime de governo em que o poder de tomar decisões políticas é da responsabilidade dos cidadãos quer directa ou indirectamente, por meio de representantes eleitos. Segundo o regime democrático certos direitos devem ser universalizados a partir dos princípios de liberdade de expressão e dignidade humana.
Mas o que distingue a democracia de outros sistemas políticos é o direito ao voto. Na sociedade democrática e livre o cidadão deve ser responsável pois ao eleger alguém para o representar tem de estar ciente das repercussões das suas acções. Cada cidadão tem o direito a poder definir quem o vai representar, no entanto vivemos numa democracia distorcida pois o povo perde poder para outros sindicatos que votam consoante os seus interesses e não pelos interesses gerais do povo. Na minha opinião, embora actualmente exista a garantia do voto universal não quer dizer que estejamos a viver em democracia, como a conhecemos, ou conhecíamos, numa época em que outros princípios da democracia não eram ignorados como actualmente. Vivermos num sistema democrático não significa termos o direito ao voto, mas sim termos o direito à nossa liberdade como cidadãos, temos o direito à manifestação e ao respeito pelos individuais e pelas minorias. A minha resposta à pergunta colocada inicialmente é não.

Henrique Olim Cardoso Nº11 12ºD

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O mito de Actéon e Diana


O mito de Actéon e Diana conta a história de uma deusa da caça que um belo dia, num dos seus banhos junto ao rio juntamente com as outras ninfas, depara-se com um homem a observá-la. Tal acto veio confrontar com a ciosa privacidade da deusa e fez com que esta o castigasse, transformando-o em veado. Este, também caçador, ao ser transformado não é reconhecido pelo grupo de cães que o estava a acompanhar e apesar de ter apelado ao seu desespero não foi ouvido por estes que acabaram por o levar à morte.
Esta é uma história que pode ser comparada com a dos Lusíadas porque até ao fim é pedido por Luís Camões o reconhecimento por parte dos portugueses aos navegadores. Até mesmo quando os marinheiros chegam ao Índia, objectivo inicial, o reconhecimento não é dado.  

Relação entre a Metamorfeses de Ovídio com os Lusíadas.


A Metamorfeses foi uma das obras mais famosas e considerados do poeta Ovídio. Caracteriza-se como sendo um poema narrativo que fala acerca das origens do mundo até seu tempo.
Este acredita que antes da formação do mundo, ou seja, quando não existia mar, nem terras, nem céu, o aspecto do mundo inteiro era considerado como sendo tudo informe e confuso, nada concordava, era tudo muito instável, não havia qualquer Titã que oferece-se luz ao mundo, logo um Caos. Ainda que houvesse mar, terra e atmosfera, as ondas não eram navegáveis e a atmosfera sem luz.
Um certo dia, Deus ou a natureza madura pôs fim a esse caos e desembaraçou a bola de neve que se tinha construído, criando assim um lugar harmonioso. O céu pôs-se a brilhar no ponto mais alto do mundo, a terra, sendo tão pesada, foi arrastada para baixo e a água flui à volta dos espaços que sobraram. Como o mundo não poderia ser habitado devido ao calor, mandou colocar neve em camadas para que assim houvesse um clima temperado. Logo, deus organizou a terra para que pudesse ser habitada, criando assim os animais. Mas faltava ser criado um ser superior a estes, ou seja, mais inteligentes, capazes de reger os outros animais. É com esse pressuposto que é criado o Homem.
Deu-se então o surgimento da idade de ouro caracterizado por ser uma idade onde tudo era perfeito e pacífico pois não havia leis, nem castigos, nem ameaças e todos eram livres. Depois desta sucedeu a geração de prata caracterizada como sendo inferior à de ouro mas superior à de bronze. Foi nesta idade que Júpiter dividiu o ano em quatro estações e que o homem se viu obrigado a cultivar a terra para poder ter o que comer. A esta sucedeu a terceira geração, a de bronze, onde a perfeição já se estava a perder e a ideia de guerra era principiante. Por último veio a idade de ferro onde a noção de lealdade e sinceridade se perderam por completo e em sua substituição vieram as noções de traição, violência e mentira.
Podemos assim relacionar a obra de Ovídio, no que se refere à idade de ouro, com o episódio da Ilha dos Amores de Lusíadas pois, tudo é sobreposto a uma perfeição vivida pelos marinheiros portugueses a um plano divino. A ilha serva de recompensa aos marinheiros portugueses pelo seu percurso e por isso é caracterizado como sendo o seu paraíso.

domingo, 21 de outubro de 2012

Canto VI Est 70-94


As estrofes 70 até 94 do canto VI apresentam-nos o episódio da tempestade, que ocorre na viagem de Melinde para Calecute. Dado que a embarcação estava já próxima de Calecute, Baco não querendo ver os portugueses alcançar o triunfo, com auxílio de Neptuno, faz forças para que os Deuses dificultem a viagem, com uma tempestade de ventos, ondas que fazem com que se quebrem mastros, as naus se alaguem juntamente com relâmpagos e trovões. 

 A tripulação insiste permanentemente em pedir que a divina providência os ajude, e é Vénus responde a tais pedidos enviando as ninfas para que seduzam os ventos e estes, acabam por enfraquecer.  

 Logo no final da tempestade, os portugueses avistam Calecute e ficam de novo esperançosos, finalizando com Vasco da gama a agradecer esta ajuda divina. Volta tudo à harmonia inicial. 

Canto VI 95-99 e a sua relação com as ideias de Mérito e Recompensa

 Luís de Camões ao apresentar-nos estas cinco estrofes deixa-nos também a sua reflexão pessoal acerca do episódio da Tempestade, no caminho para Calecute e transmite-nos a sua interpretação de duas caraterísticas essenciais na obra, mérito e recompensa.

 Para ultrapassar as dificuldades inerentes à tempestade os portugueses tiveram que se transcender e unir esforços, tiveram que lutar para glorificar o nome do seu país sem qualquer interesse ou objetivo secundário em vista. Para Camões, estes atos, repletos de pureza e genuinidade, são os mais íntegros e que merecem maior reconhecimento, pois assentam em valores e princípios que estão presentes no individuo independentemente das consequências positivas/ negativas dos seus atos. 

 Vemos neste episódio, no entanto, algumas marcas de preocupação por parte dos portugueses em morrer em viagem, pois em solo desconhecido e alheio ao seu, ninguém iria honrar devidamente a sua morte, o que reflete a necessidade do ser humano em ser reconhecido pelas suas bravuras. É esta também uma das razões porque ultrapassam os seus limites, pois morrer em Portugal faz com que não sejam esquecidos. Cria-se um antagonismo de ideias entre o morrer em terra e morrer em mar, sendo a morte em solo nacional uma morte com glória e a morte marítima uma desilusão total. 

 É também importante a ideia de que o povo português não se pode segurar na história honrosa feita pelos seus antepassados para garantir a sua própria glória. O facto de nascermos numa boa família ou num país reconhecido em qualquer parte do mundo não é suficiente para adquirirmos tal estatuto. Nós somos responsáveis pelos nossos próprios feitos e os outros pelos deles. É a estes que Camões faz a sua crítica, aos que se deixam levar pela ganância de aproveitar os feitos dos outros para se glorificarem a eles próprios, para que possam ser eles a receber as respetivas recompensas, afirmando que uma vida sem esforço não deverá ter as suas virtudes. 

 Os portugueses, que passaram pelas maiores adversidades, têm o direito de aspirar à honra imortal, pois o estatuto de herói não se atinge com facilidade. Após estes feitos, após todo o sufrágio, a dor começa a desaparecer e a fazer-se ver com mais dificuldade, pois a resistência é agora maior, sendo esta uma das grandes caraterísticas de um herói. 

 Pedro Tomé Nº19 12ºD

Ilha dos Amores com recurso a Ovídio

 O texto das metamorfoses sugere que quando a terra foi criada, o homem tinha todos os recursos ao seu alcance e com muita facilidade satisfazia as suas necessidades, só que essa facilidade transformou-se em preguiça e fez com que este não ganhasse a mínima preocupação com a natureza, a qual mais tarde ressentiu essa falta de cuidado e dificultou a vida ao homem, obrigando-o a gerir e cuidar melhor dos recursos. Também os valores que estão dentro do homem foram sofrendo alterações, passando estes de lealdade, honestidade ou o amor desinteressado para corrupção, inveja ou ambição desmedida.  


 No episódio da Ilha dos Amores é expressa a vontade de Vénus em reconhecer os marinheiros portugueses pela sua excecionalidade em ultrapassar desafios e premiá-los com o prazer divino num paraíso conhecido por Ilha dos Amores. Esta contemplação tem como valor simbólico a entrega que os deuses fazem aos marinheiros de imortalidade, a recompensa máxima conseguida por um ser humano. Esta caraterística está também relacionada com os valores destes portugueses, que assentavam essencialmente no facto de praticarem os atos pelos atos em si e não terem em vista qualquer recompensa ou interesse secundário, eram atos genuínos e puros. 

 Esta ascensão provocada pelos deuses, tem lugar na Ilha dos Amores, um paraíso que se assemelha à idade do ouro referido por Ovídio, pois neste lugar o homem fica livre de todos os males que o corrompem. Os marinheiros transcendem-se e partilham dos mesmo lugares e prazeres que os deuses, uma recompensa pelo seu esforço heroico. Outro aspeto presente em ambas as obras é a crítica que fazem à imoralidade do homem, ao seu interior obscuro que guarda caraterísticas como a ganância, pois o mundo, segundo Ovídio, começa num caos total que corresponde à viagem com rumo à India, que tem de ser organizado (ultrapassado) e daí resulta o paraíso que é a Ilha dos Amores ou a Idade do Ouro, pois em ambas as situações são os deuses os agentes causativos e o homem o elemento que destrói essa beleza natural, que se segue à idade do ouro.

 Pedro Tomé Nº19 12ºD
Mito de Actéon e Diana – Relação com os Lusíadas

 O mito de Actéon e Diana conta a história de um caçador corajoso, e de Diana uma bela mulher também com dotes para a caça.
 Num certo dia Diana foi-se balhar com outras Ninfas numa gruta onde se costumavam banhar, e para grande espanto da Ninfas viram um homem a observar Diana, esse homem era Actéon, apercebendo-se da presença do homem na gruta as Ninfas começaram a gritar e a correr para tentar tapar, esconder Diana para que esta não fosse vista, Diana furiosa com o que se tinha sucedido transformou Actéon num veado, saciando assim a sua raiva. Após se ter tornado um veado Actéon fugiu e enquanto fugia ele foi avistado pelos seus cães de caça que desataram a correr atrás dele, Actéon ainda tentou gritar para mostrar que era o seu dono mas não consegui pois a sua voz não saia, ele tentou suplicar aos cães que parassem mas não valeu de nada acabando por morrer.
O Mito de Actéon e Diana tem uma ligação com a história dos Lusíadas na medida em que Actéon foi morto pelos seus próprios cães que eram de confiança, e os portugueses também quando regressam da sua longa viagem do caminho marítimo para a índia, não tiveram o merecido reconhecimento que deveriam ter tido.


Afonso Limão Nº2
Navegadores Portugueses e as Ninfas -> Até que ponto se assemelham com Ácteon e Diana

A ideia central a destacar, no que toca às possíveis semelhanças nestes dois episódios é, na minha opinião, o conceito ilusório de presa e caçador.
No episódio da Ilha dos Amores nos Lusíadas os navegadores partem em busca das ninfas que fogem como se fossem as presas de um romance. No entanto, as Ninfas têm um plano e deixam-se dominar da maneira que querem e que escolhem. Aqui pode determinar-se que as Ninfas assumem de facto, o controlo da situação e que acaba por poder dizer-se que elas são as verdadeiras caçadoras.

No mito de Ácteon e Diana, o primeiro é um bravo caçador, com perícia no que faz. A sua principal ocupação era a caça, o que a fazia ser considerada como a divindade dos caçadores. Um dia Ácteon encontra Diana a banhar-se e esta, com fúria do descaramento transforma o caçador em veado, que é por fim comigo pelos seus próprios cães de caça. 

Penso que se pode estabelecer aqui uma semelhança com o episódio de Camões, em que é de uma certa forma revertida a situação de caçador e presa.

Da mesma maneira que Actéon, é atacado pelos seus cães de caça, que lhe seriam indubitavelmente fiéis, após ter sido transformado em veado, os tripulantes das embarcações portuguesas, os nobres navegadores, chegados da viagem à Índia, não obtém o devido reconhecimento e fama por parte daqueles que deveriam concedê-los.
Desta forma se assemelham também os finais das duas obras.

Afonso Ramos Bento Nº4 12ºD


Actéon/Os Lusíadas

                Actéon aparenta estar numa situação semelhante à dos soldados portugueses. Mas no caso dele, acabou por ter um resultado diferente pois a “ninfa” dele não era como as ninfas da ilha dos amores referidas em Os Lusíadas, esta não acaba por se oferecer a ele.
               De facto, não é por acaso que Ácteon é referido deiversas vezes em Os Lusíadas pois embora as situações pareçam diferentes, na verdade não são. Actéon tem um desfecho infeliz e os soldados portugueses, embora o desfecho na ilha dos amores ter sido perfeito, quando regressam a Portugal não são reconhecidos pelos seus pares daí que o final de Actéon não seja completamente diferente do herói épico de Camões.
 
Mark Alexandre Vaz nº17 12ºD
História de Leonardo


 Estas estrofes tratam da história de Leonardo, um português pouco dado ao sucesso amoroso. Este soldado, mesmo que sentisse o amor dentro de si, nunca tinha tido sorte ao amor correspondido. Pensava no seu futuro amoroso como algo predestinado à infortuna, mas mesmo assim não se conformava com esse facto e lutava por uma possível rutura no destino.

 Corria pois atrás da ninfa Efire, que era mais difícil de atingir que as outras e, já num estado de desespero, se declara suplicando-lhe para aceite o seu corpo, pois a sua alma já há muito que nela residia. Pede-lhe também para que, tal como ele, não acredite no destino que lhe estava traçado, pois o destino não permitirá que ele a consiga atingir.

 Tenta fazer-lhe perceber que só sentirá as virtudes do mundo na altura em que esperar por ele, utilizando aqui como metáfora a rapidez com que esta lhe foge. Leonardo, seduz a ninfa pela palavra, vai-lhe propondo algumas interpretações retóricas e esta vai ficando mais sensível ao seu amor, até que este lhe concede também a sua alma. Constata-se que o facto de esta ter dificultado o acesso ao seu amor disputou ainda mais a vontade do soldado de a ter, deixando-o agora num estado de total felicidade. 

Valor simbólico do casamentos

 As estrofes 83 e 84, do canto IX , apresentam-nos o  matrimónio contraído entre marinheiros e ninfas, neste caso especificado ao caso de Leonardo. Este episódio resulta das várias tentativas dos marinheiros por “apanhar” as ninfas na ilha dos amores, tentativas que alcançam o sucesso já perto do final deste canto. Os casamentos com as ninfas são para os marinheiros uma recompensa por todo o ultrapassar de dificuldades que se fizeram sentir até à chegada à Índia. Qualquer ação que contenha mérito próprio é suscetível de ser reconhecida. Esse reconhecimento, neste caso, passa pela entrega das ninfas aos marinheiros, e ao mesmo tempo representa metaforicamente o todo o seu esforço, pois tal como os marinheiros tiveram que lutar para conseguir chegar a estas deusas, também eles tiveram que suportar e passar por muitos obstáculos que se puseram no caminho para a Índia.

 Este reconhecimento é de extrema relevância para a tripulação nacional, pois sabem que mesmo que em Portugal não lhes seja dada a devida importância, já tiveram a sua recompensa, o que remete um pouco também para o que é dito acerca da sua partida e da companhia espiritual das ninfas, no final da obra. É também de salientar que esta recompensa pela glória dos que embarcaram pela pátria, é entregue de forma divina, dado que as deusas do amor se encarregam de satisfazer os prazeres destes marinheiros aventureiros.

Pedro Tomé Nº19 12ºD