quinta-feira, 6 de junho de 2013

Memorial do Convento - Apresentação oral

Memorial do Convento
Tópicos possíveis de apresentar:
1. Os conceitos de: justiça (enquanto conceito propriamente dito e enquanto exercício prático); integridade; dignidade; dever (cumprimento de um dever); sacrifício (ou modos de encarar a ideia de sacrifício, nomeadamente tendo em consideração o Livro de Job); virtude (o que é um homem virtuoso); esquecimento (vantagens e desvantagens de uma atitude “esquecida” ou uma atualização do conceito de esquecimento); imaginação (confronto com a ideia romântica de imaginação. O que é uma imaginação produtiva); mentira (o que é mentir?); edificação (como se apresenta e será que se apresenta este conceito ao longo da ação da obra?); perdão; resignação e/ou aceitação; destino; sombra.
2. Conceito(s) de religião em Memorial do Convento, de José Saramago.
3. Estrutura da ação da obra; identificação, caracterização e papel desempenhado por cada personagem.
4. Relações sociais em Memorial do Convento.
5. O que é viver num mundo de enganos?
6. Como enfrentar / suportar adversidades? Que estratégias se nos apresentam ao longo da ação da obra?











Síntese
Saramago, em Memorial do Convento, recorre a um momento da Historia e, em forma de narração alegórica, propõe uma reflexão sobre esses acontecimentos, sobre o comportamento e o destino humano e sobre um mundo onde há a magia do inexplicável.
Memorial do Convento evoca a História portuguesa do reinado de D. João V, no seculo 18, procurando uma ponte com as situações políticas de meados do século 20.
Durante o reinado, o rigor e as perseguições do Santo Ofício aumentam com vitimas que tanto podem ser cristãos novos como todos os considerados culpados de heresias, por se associarem a práticas mágicas ou de superstição.
Memorial do Convento caractireza uma época de escessos e diferenças sociais, que se mantêm na atualidade: opulência/miséria – poder/opressão – devassidão/penitência – sagrado/profano – amor ausente/amor sincero.
Memorial do Convento é uma narrativa histórica que entrelaça personagens e acontecimentos veríficos com seres conseguidos pela ficção.
Romance histórico, Memorial do Convento oferece-nos uma minunciosa descrição da sociedade portuguesa do inicio do século 18. Romance social, dentro da linha neorrealista, preocupa-se com a realidade social, em que sobressai o operariado oprimido. Romance de intervenção, visa denunciar a história repressiva portuguesa da primeira metade do século 20. Romance de espaço, representa uma época, interessando-se por traduzir não apenas o ambiente histórico, mas também vários quadros sociais que permitem um melhor conhecimento do ser humano.
Em Memorial do Convento, há duas linhas condutoras da acção: a construção do convento de Mafra e as relações entre Baltasar e Blimunda.
A ação principal é a construção do convento de Mafra, que entrelaça o desejo megalómano do rei com o sofirmento do povo.
Pararelamente à acção principal, encontra-se uma acção que envolve Baltasar Sete-Sois e Blimunda Sete-Luas, numa história de espiritualidade, ternumar, misticismo e magia.
As duas acções, que se encaixam, sugerem uma profunda humanidade trágica.
Os espaços físicos e sociais privilegiados são Lisboa e Mafra
A reconstituição da História passa pela ficção, revelando um aparente desprezo do tempo.
Em Memorial do Convento o romance histórico convive e entretece-se com o universo mágico criado pela ficção.
As personagens servem a própria intenção do autor na necessidade de repensar os acontecimentos e as figuras históricas à luz de uma nova realidade criada no presente e pressentida no futuro.
As personagens femininas adquirem, na obra, um claro relevo: D. Maria Ana é uma rainha triste e insatisfeita, que vive um casamento de aparência e com escrúpulos morais nas relações sexuais e nos sonhos; Blimunda é a mulher com capacidades de vidente e possuidora de uma sabedoria muito própria, cheia de sensualidade e amor verdadeiro.
Saramago reijeita a omnipotência do narrador, na medida em que considera que é o autor que põe em causa o presente que conhece e o passado que lhe chega através das suas investigações. Para Saramago a omnipotência do narrador é pura ficção.
Uma voz narrativa controla a acção narrada, as motivações e os pensamentos das personagens, mas faz tambem as suas reflexoes e juizos valorativos.
A História, em Memorial do Convento, torna-se matéria simbólico para refletir sobre o presente, na perspectiva da denúncia e dela extrair uma moralidade que sirva de lição para o futuro.
Observando o Memorial do Convento, julgamos que a escrita saramaguiana persegue uma preocupação com o ser humano, a sua miséria e a sua luta, as injustiças e os seus anseios, a sua grandeza e os seus limites.
Em Memorial do Convento há diversas vezes um discurso de sobreposições narrativas com uma voz que tanto descreve como descontronstroi as situacoes, que dialoga com o narratario ou manuseia as personagens como títeres, que domina os conhecimentos da História ou se sente limitado, que faz ponderações ou ironiza.
Estrutura
A estrutura de Memorial de Convento apresenta duas linhas condutoras da ação – construção do convento de Mafra e relações entre Baltasar e Blimundam – que se entrelaçam com acontecimentos diversos recolhidos na História ou fantasiados.
Memorial do Convento está dividido em 25 partes, ou capítulos, não nomeadas nem numeradas, mas perfeitamente reconhecíveis (pelos espaços que as separam)
Personagens
D Joao / Baltasar Sete Sois / Blimunda Sete Luas / Padre Bartolomeu Lourenco / O Povo







MOMENTOS – capítulos
1 – Relação Rei/Rainha e a promessa da construção do convento em Mafra
2 – Os milagres conseguidos pelos fanciscanos e o seu desejo na construção do convento
3 – A situação socioeconomica: excesso de riqueza/extrema pobreza
4 – Baltasar Sete-Sois regressa da guerra maneta
5 – O auto de fé no Rossio e o conhecimento travado entre Baltasar, Blimunda e o padre Bartolomeu
6 – O padre Bartolomeu e a máquina voadora
7 – Nascimento da vinha de D João, Maria Barbara
8 – Os poderes de Blimunda em ver dentro dos corpos
                Nascimento do segundi filho de D. João V, o infante D. Pedro
                Escolha do alto da Vela em Mafra para edificar o convento
9 – O Padre Bartolomeu Lourenco parte para a Holanda, enquanto Sete-Sois regressa a Mafra, a casa dos pais, acompanhado de Blimunda
10 – Nascimento do infante D. José, terceiro filho da Rainha
                Doença do rei, enquanto o seu irmão D. Francisco tenta a cunhada, revelando â rainha o interesse em tornar-se seu marido
11 – Regresso do padre Bartolomeu, que deseja que Blimunda consiga armazenar éter composto de “vontades”
12 – Inauguração da primeira pedra do convento, a 17 de novembro de 1717
14 – O musico Scarlatti, napolitano de 35 anos, que ensina a infanta D. Maria Barbara, toma conhecimento do projecto da passarola
15 – A epidemia da cólera e da frebre amarela e a recolha das “vontades” por Blimunda
16 – A concretização da viagem da passarola voadora, com o padre Bartolomeu, Baltasar e Blimunda
17 – O regresso de Baltasar com Blimunda a Mafra, onde começa a trabalhar nas obras do convento, e anúncio da morte do padre Bartolomeu em Toledo
18 – Caracterização dos gastots reais e dos trabalhores em Mafra
19 – Baltasar torna-se boieiro e participa no carregamento da pedra do altar verificando-se, durante o transporte, o esmagamento de 1 trabalhador
21 – Decisão de D. João V de que a sagração do convento se fará em 22 de outubro de 1730, data do seu aniversário
22 – Casamentos da infanta Maria Barbara com o principe Fernando VI de Espanha e do principe D jose com a infanta espanhola Mariana Vitoria
23 – Baltasar vai ao Monte Junto e desaparece com a passarola
24 – Blimunda procura Baltasar, enquanto em Mafra se faz a sagração do convento, em 22 de Outrubro de 1730
25 – Durante nove anos Blimunda procura Baltasar e vai encontra-lo em Lisboa a ser queimado num auto de fé
A religião
Nada instruído ou informado, o povo português facilmente se deixa manipular pela Igreja, pelos seus mandamentos anacrónicos e muito afastados dos princípios defendidos por Jesus Cristo. O próprio rei e demais elementos da corte se incluem nesta categoria, pois pactuam com todos os desejos e interesses da Igreja que ninguém ousa sequer contestar ou interrogar, sob risco de ser acusado de blasfémia ou heresia.
A religião era, na época, um verdadeiro ópio popular, a forma sagaz, inteligente e inebrante de que a igreja dispunha para manter a ordem e os seus grandes lucros. O povo, miserável e analfabeto, vivia continuamente na esperança de um qualquer milagre. É, na ignorância, um povo feliz que «desce à rua para ver desfilar a nobreza toda» para ver chegar o cardeal D. Nuno da Cunha, esquecendo que são estes os responsáveis pela sua desgraça.
Personagem colectiva e anónima, consubstancia-se nos vários populares que reflectem a miséria encardida, as péssimas condições de subsistência, a ignorância e a exploração de que são vítimas. E, no entanto, «este povo habituou-se a viver com pouco.» e não é capaz de evidenciar uma atitude crítica, nem de assumir uma postura reivindicativa ou de revolta, de tal forma vive embriagado com os dogmas da Igreja, assustado com atitudes ou pensamentos que possam significar o julgamento ou o castigo em autos-de-fé, encarados também como diversão, tal como as touradas.
Com esta consciência, a Igreja sabe tirar partido da sua posição de superioridade e da influência que exerce, funcionando simultaneamente como entretenimento e tribunal, alertando os mortais para os perigos que correm caso não respeitem os mandamentos da santa Igreja. Mas não faculta o exemplo, todos sabem que muitos membros do clero desrespeitam os votos que fizeram, que os seus mais altos dignatários são a personificação da vaidade, da luxúria, da gula, pecados com que se engana o povo, com o intuito de o manter ignorante e mais facilmente manipulável.



Crítica à Igreja
Ponto alto da sátira político-religiosa, o auto-de-fé ou solene julgamento/execução do tribunal da Inquisição, constitui ocasião e motivo singulares para uma ácida crítica comum, à rainha e ao povo.
À rainha, porque, apesar do luto pela morte de seu irmão José, o Imperador da Áustria, e apesar do seu estado, ela não deixaria de frequentar tão solene cerimónia, não fosse a debilitação causada pelas sangrias a que foi submetida. (página 49).
Ao povo, porque sedento de crueldade, oscila na sua preferência entre o auto-de-fé e as touradas (página 50).
O povo, néscio e atrasado, caracterizado por uma grande e indesmentível acefalia religiosa, participa com o mesmo entusiasmo nos autos-de-fé e em novenas e romarias para que a rainha dê ao reino um herdeiro.
A Igreja promove e fomenta, igualmente, as discrepâncias sociais:  «desinteressa-se Deus ... mais os irmãos» (página 109).
O Santo Ofício é continuamente alvo de crítica: «Dos julgamentos do Santo Ofício não se fala aqui.. bocas.» (página 195).
Estamos, pois, em presença de uma crítica mordaz a este modo bem particular de praticar a religião. O poder da Igreja é tanto que consegue ludibriar o povo, embriagá-lo com o fervor religioso e criando-lhe a noção de um Deus omnipresente, nada benevolente ou pacificador, mas castigador. Este poder é exercido com grande demagogia, com consciência de que a religião, de acordo com determinadas regras e preceitos, pode constituir o ópio do povo. Demagógica será, portanto, a procissão de graças por o Espírito Santo ter sobrevoado a Vila de Mafra e a crença de que todos os trabalhadores do convento contribuem para a glória de Deus.









Conceitos
Justiça – Tanto para uns e tão pouco para outros
Dever – Rei e Rainha têm um dever (herditariedade)
Sacrifício – O povo tem sacrificio, tal como o Rei e a Rainha
Relações Sociais – Nobreza e Clero dominam o povo
Sombra
No que diz respeito à presença actuante e poderosa da cor negra350, metáfora da
sombra e da morte, ela está bem patente na crítica que o narrador dirige aos
procedimentos inquisitoriais que condenam ao cárcere, ao degredo e à fogueira:
a tarde desce depressa, mas o calor sufoca ainda, o sol de garrote, sobre o
Rossio caem as grandes sombras do convento do Carmo, as mulheres mortas
são descidas sobre os tições para se acabarem de consumir, e quando já for
noite serão as cinzas espalhadas, nem o Juízo Final as saberá juntar, e as
pessoas voltarão às suas casas, refeitas na fé, levando agarrada à sola dos
sapatos alguma fuligem, pegajosa poeira de carnes negras, sangue acaso
viscoso se nas brasas não se evaporou (p. 54)
nas touradas, e também nos autos-de-fé, há neles e nelas um furor que torna
mais fechadas as nuvens fechadas que as vontades são, mais fechadas e mais
negras, é como na guerra, treva geral no interior dos homens (p. 146,
destacados nossos).
O tom negro e sombrio é igualmente visível quando o narrador se refere aos
sofrimentos que Mafra representa: «O sol já se pôs, Mafra, em baixo é escura como um
poço» (p. 111), e «Em baixo, distingue-se confusamente o traçado dos caboucos, negro
sobre sombra, há-de ser ali a basílica» (p. 125, destacados nossos).
No sentido de ilustrar a presença de notações visuais e efeitos de luz, deve-se, por
outro lado, lembrar o momento em que se ergue a alegoria do voo, representada pelos
movimentos da sombra da passarola nas paredes da abegoaria, numa espécie de
antecipação da elevação:
350 Para se conhecer a simbologia das cores, sobretudo da cor negra, sugere-se a leitura do artigo “Da
Excelência das cores”, HATHERLY, Ana, in O Ladrão Cristalino. Aspectos do imaginário barroco, ed.
cit., pp. 335-347.
131Fez-se noite (…) Duas candeias mal alumiavam a abegoaria. Nos recantos a
escuridão parecia enovelar-se, avançando e recuando consoante as oscilações
das pequenas e pálidas luzes. A sombra da passarola movia-se sobre a parede
branca. Estava quente a noite. Pela porta aberta acima do telhado do palácio
fronteiro, viam-se estrelas no céu já côncavo (p. 173).
Acresce ainda a presença da cor negra e a associação homem/formiga a convocar
a alegoria da morte e a colocar a tónica nas crueldades a que são sujeitos os
trabalhadores do convento de Mafra: «e depois vem outro homem que transportará a
carga até à próxima formiga, até que, como de costume, tudo termina num buraco, no
caso das formigas lugar de vida, no caso dos homens lugar de morte»

Tópicos de opinião


·         Relação do conteúdo da obra ao mundo actual
·         A missão de Saramago para os leitores
·         A liberdade época da obra & a liberdade actual no Mundo
·         Relação da ideia de esquecimentos da obra a fenómenos da mesma espécie no Mundo actual

Aos meus alunos do 12º ano

Este é o vosso último dia de aulas no Ensino Secundário, assim considerado de acordo com o calendário lectivo. Este é o último dia em que vos encontro nas circunstâncias específicas de uma sala de aula. Diz-se que estes dias são dias de despedida. É verdade. Por esse motivo, costumam ser feitos balanços e demais considerações acerca do passado. Neste caso seria de um passado comum que convosco tive o privilégio de partilhar.
Contudo, não é do nosso passado comum que me lembrei de vos falar hoje. Desse passado permanecerão as memórias que trazemos nas nossas lembranças e que a todos nós permitirão um dia convocar a nostalgia que nos alimenta nos momentos difíceis e que nos consolam em direcção ao futuro individual que cada um de nós tem pela frente.
O meu tópico final que hoje vos apresento, a alguns ao fim de seis anos, dirige-se ao futuro. A um futuro que, embora não tenha parecido muitas vezes, sempre esteve presente nas nossas aulas, até porque, num certo sentido, as pessoas de tenra idade ainda não têm passado e, apesar de viverem imersas num presente que fervilha, criando a ilusão de que apenas ele existe, só têm futuro.
De qualquer forma, como tudo aquilo que é de facto essencial, o futuro de que vos quero falar só pode fazer sentido se o conseguirmos contemplar de acordo com a nossa História, que o mesmo é dizer, de acordo com os valores da tradição cultural que nos molda e que, por sua vez, nós temos de moldar.
O tópico de que vos falo, enfim, é a Liberdade.
Ocorreu-me falar-vos de Liberdade, partindo de um autor antigo, de um dos maiores autores que a nossa civilização alguma vez conheceu: Dante Alighieri.
Não consigo conceber uma sociedade futura sem Liberdade e vocês serão os agentes que hão-de transformar essa sociedade.
A liberdade separa águas entre a cega escuridão infernal e a transparente alvorada “de um zéfiro oriental” que acolhe Dante e Virgílio no Purgatório. Esta é uma liberdade muito diferente daquela que nós, modernos, entendemos como tal. A nossa liberdade é uma liberdade política, assente no abuso de uma legislação ou de um poder opressor. É uma liberdade social, que resulta da necessidade e da desigualdade. É uma liberdade pessoal, não condicionada, resultante de uma realização pessoal de si, ou do prazer próprio. Falamos em liberdade de voto, de consciência, de opinião. É destes conceitos que falamos quando comumente falamos em liberdade. No entanto, quando falamos de Dante, a ideia de liberdade não é de uma liberdade de alguma coisa, mas sim de uma liberdade que provém de alguma coisa. Para Dante, a liberdade é o avesso da servidão. Numa carta dirigida aos seus contemporâneos, o autor da Commedia enuncia quatro verbos de coacção que delimitam com exactidão a ideia oposta à de liberdade. Os verbos são: dominar, obrigar, aprisionar, proibir. Para Dante, a liberdade resulta de um contraste e, por conseguinte, de um compromisso com o objectivo de ultrapassar a condição de escravidão.
Ao longo dos anos fomos lendo obras diversificadas. A literatura proporciona-nos a possibilidade de pensarmos e de, através das ideias que vamos construindo, desenharmos o nosso próprio destino, ou pelo menos de nos iludirmos perante a possibilidade de dominarmos o mundo, mesmo que esse mundo seja o do nosso quintal. Um quintal onde nos podemos sentir confortáveis, mas cuja ideia de permanência não está imune à vulnerabilidade dos tempos.
Há um par de anos, muitos pensariam impensável a supressão de direitos fundamentais a que hoje em dia vamos assistindo. De tal modo essa perda se tem processado de forma sistemática e precisa que, durante muito tempo, pareceu indolor. Contudo, com o tempo, e por via dessas perdas acumuladas, a nossa sociedade debilitou-se e a ideia de progresso imparável que durante muito tempo moldou o pensamento do cidadão comum, deu lugar a uma época de incertezas.
Não podemos dizer que não temos liberdade: de expressão, de voto, por exemplo. Contudo, o sentido do conceito de liberdade tem sido esvaziado. Vivemos num período histórico perigoso, movido pela necessidade. O homem que se quer livre é aquele que não vive da necessidade de satisfação das coisas básicas de vida. O homem que vive submerso na necessidade de satisfação daquilo que é básico passa a ter em risco, para além dos bens de satisfação imediatos, algo que é ainda mais importante: a sua dignidade.
O ponto a que chegámos requer pessoas informadas e capazes de conceber juízos críticos que proporcionem o restabelecimento de uma sociedade vigorosa e digna, e, por conseguinte, Livre.
Como podem observar, as notícias que vos trago não são as mais promissoras, porque implicam um trabalho árduo de restabelecimento de uma ordem nova, de um mundo novo em que os homens possam sentir-se de facto o centro das decisões mais importantes das suas vidas. Essa tarefa está destinada a ser cumprida pela vossa geração.
Desejo-vos coragem, tenacidade, teimosia na prossecução da tarefa.
O futuro está aí!

Resta-me agradecer a paciência que sempre tiveram para comigo e a forma sempre educada e gentil como me trataram ao longo destes anos em que a escola foi sempre um lugar muito agradável para mim.

Carlos Jesus

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Memorial do Convento - Visão pessoal da obra



Queria começar por apresentar um excerto de um poema de Bertolt Brecht chamado “Perguntas de um Operário Letrado”:
Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras? (…)

E esta é a pergunta a que o Memorial do Convento responde, dizendo que não foram os reis mas sim o povo que, com o seu sangue e suor, construiu aquela megalómana obra. Saramago pretende fazer do povo a personagem principal desta história, passando as figuras régias para um plano secundário e reduzindo a sua suposta grandeza à dimensão de caricaturas. À semelhança dos Lusíadas ou da Mensagem, Saramago quer também resgatar estes homens do esquecimento (libertá-los da lei da Morte, como diria Camões) e reservar-lhes um lugar na História, para que possam ser reconhecidos pelo mérito que tiveram na feitura daquela gigantesca obra. E, nisto, o título da obra é importante: “Memorial” como se fosse um livro de lembranças que evoca a memória destes homens, que os recorda. A História oficial valoriza normalmente a esfera do poder, Saramago quase que repõe a verdade, e atribui ao povo e aos mártires o estatuto de verdadeiros fazedores da História. Saramago, ao resgatar do esquecimento esta massa anónima de pessoas e as condições sub-humanas em que se construiu o Convento de Mafra, está a apresentar-nos uma matéria simbólica para reflectir sobre o passado na perspectiva de dela extrair uma lição moral para o presente e o futuro. Segundo Croce, um filósofo italiano, “toda a História é contemporânea”, ou seja, a ideia de que a História é cíclica e, portanto, é necessário entendê-la para melhor lidarmos com o futuro (uma ideia também presente em Nietzsche, a ideia do eterno retorno). E é também por esta razão que é preciso evitar o esquecimento, para que não deixemos que aquelas que foram grandes atrocidades cometidas entre os chamados irmãos-humanos voltem a acontecer. No caso da construção do Convento de Mafra, falamos da exploração dos trabalhadores mas poderemos referir-nos a situações ainda mais graves, e mais recentes na História da Humanidade, como por exemplo, o Holocausto na Alemanha. É preciso que os países e as pessoas mantenham acesa a memória do que aconteceu para que se vejam obrigados a carregar uma cruz, a cruz do seu passado, porque quanto mais lhes pesarem as suas cruzes, menor será o risco de que certos acontecimentos voltem a dar-se. Mas que não seja uma lembrança doentia das coisas, é também necessário saber gerir as memórias de forma saudável, para que não sejamos absorvidos pelo ressentimento ou pelo rancor, e para que possamos recomeçar e dar aos outros e a nós próprios uma nova oportunidade.

Há na obra um contraste constante constituído por dois grupos antagónicos a que se podem chamar: grupo de poder – a aristocracia e o alto clero – e o grupo do contrapoder – o povo, nomeadamente o povo oprimido. O rei e a rainha e Blimunda e Baltasar constituem dois pares simbolizadores de duas vivências do amor completamente diferentes. Baltasar e Blimunda vivem um amor puro, verdadeiro e até, de certa forma, marginal e transgressor, porque não obedece aos códigos sociais da época e se basta a si próprio, enquanto o rei e a rainha são um casal apenas por razões de Estado, têm uma relação meramente artificial que obedece às regras da corte, que se encontram duas vezes por semana para cumprir o seu dever, ou seja, oferecer um herdeiro à coroa. Estes últimos vivem num mundo de ostentação de riqueza e poder, tentando colocar-se num pedestal, mas Saramago fá-los regressar à sua condição de seres humanos, em tudo iguais nos seus defeitos e nas suas fraquezas. (e aí poderíamos fazer referência ao “flato rijo” ou aos escrúpulos morais com que a rainha tem de viver por ter sonhos de carácter sexual com o seu cunhado). Vivem num chamado “mundo de enganos”, com uma ilusão de superioridade em relação aos seus súbditos, mas em que toda aquela magnificência é apenas aparente, é apenas uma máscara, porque afinal tudo aquilo é vão, tudo aquilo é efémero, já que todas as pessoas, independentemente da sua condição social, e pelo facto de serem pessoas, se situam a um mesmo nível perante as vicissitudes da vida, e sobretudo perante a inevitabilidade da Morte. No Hamlet, na cena em que ele fala com a caveira, que é a caveira do Yorick (um bobo da corte no tempo em que ele era pequeno), e ele a dada altura diz-lhe: “Vai ter com a minha dama e diz-lhe que por mais maquilhagem que ponha na cara, é a este estado que vai chegar”. E, portanto, o Memorial do Convento também nos diz que é inútil tanta maquilhagem, ou por outras palavras, tanta ostentação de riqueza e de poder, porque nas grandes questões como a Morte, somos todos iguais, ou usando um discurso mais bíblico, todos nascemos do pó e todos ao pó voltamos. 

Naquele documento que o stor enviou, com as indicações para esta apresentação, pedia-se para ter em consideração o Livro de Job, quando se falasse da ideia de sacrifício, (se bem se lembram, muito basicamente, conta a história de um homem que persiste e consegue manter a fé perante as adversidades que lhe são colocadas por Deus), mas eu gostava de relacionar com um livro que li recentemente que é uma espécie de actualização do Livro de Job, uma espécie de Livro de Job do século XXI, e que se chama “A Estrada” de um escritor norte-americano chamado Cormac McCarthy que fala de um pai e de um filho que, num mundo pós-apocalíptico, completamente devastado por aquilo que se pensa ter sido um ataque nuclear, feito de cinzas, sem lei, sem ordem, sem Esperança, sem Deus (pelo menos, na ideia que temos de Deus, como uma entidade boa), e eles vão em direcção à costa, sem saber se vão encontrar alguma coisa na costa, fugindo de salteadores, de canibais, passando fome e frio... Num mundo em que imperasse a razão/lógica, o mais óbvio seria o homem matar o filho e a seguir suicidar-se, mas eles persistem, continuam, o homem continua a proteger o filho, sem qualquer objectivo senão o de andar pela estrada. E a pergunta é porquê? Ele não vai chegar a lado nenhum, não vai encontrar nada de bom. Mas ele mantém aquela força, aquela fé inabalável (não é uma fé em Deus, porque já não há Deus, mas acho que uma fé nele próprio e na sua capacidade de resistência e sobrevivência). Porque mesmo que não haja Deus, é meu dever fazer o que está certo, porque há uma ética sobre todas as coisas, sobre a lógica e, sobretudo, sobre a religião, é meu dever continuar a andar e não tomar o caminho mais fácil e errado que, no caso deste livro, seria o de matar o filho e matar-se a ele. E, no caso da transportação da pedra, esta é uma forma de encarar o sacrifício, ou seja, suportando-o, continuando a andar e tentando conservar aquela centelha de esperança (por muito pequena que seja) numa eventual melhoria das suas condições de vida. (Uma Pequenina Luz, Jorge de Sena)

João Miguel Aragão

sexta-feira, 15 de março de 2013

Resumo da apresentação


Resumo da apresentação
Neste poema poema podemos verificar que o poeta constata que não existe natureza, ou seja, se considerarmos a natureza como sendo uma associação de elementos feita pelo nosso pensamento, podemos ver que isso não existe. O que o sujeito poético diz que existe são os elementos soltos da natureza, ou seja, o rio, as pedras.
Desta forma, podemos ver que o sujeito poético valoriza aquilo que é próprio dos nossos sentidos, nomeadamente da visão ao invés de valorizar aquilo que é próprio da razão ( como acontece com os outros heterónimos de fernando pessoa e também com o próprio ortónimo ). Sendo assim, este é considerado o mestre de todos os outros, visto que ao valorizar os sentidos, não tem as preocupações e o desassossego em si  de tentar sempre procurar mais qualquer coisa para ser feliz, pois este heterónimo aceita as coisas tal como elas são. Daí noutros poemas de Fernando pessoa os outros heterónimos e ortónominos expressarem o desejo de quererem ser como o seu mestre, Alberto Caeiro.

Inês Moura

terça-feira, 12 de março de 2013

Hopper

Em pleno século XX, Daniele, um judeu de terna idade e recém-casado com a esbelta Gloria, vê-se confrontado com o início da segunda guerra mundial. O jovem italiano assumindo a rédeas da família e mostrando o papel de chefe de casa como é normal aos olhos da sociedade destes anos, procura solução para o problema e rapidamente se denota com a incapacidade de o resolver devido á rápida intervenção nazi á procura do povo judeu para o exterminar.
Já não são poucos os que trabalham nos campos de concentração, fora aqueles que nem a enterro tiveram direito. Daniele procura então, no jornal, saber o que pode fazer, as saídas possíveis como emigrar para o continente do outro lado do oceano, a grande América. No entanto, o abastado contabilista perde com estas semanas de pensamento e stress, que sua mulher existe, aquela alta, bela e atraente mulher italiana que dos seus olhos verdes se havia encantado e que esta faz parte da família e que precisa tanto apoio como ele. Esquece-a e deixa-a desolada ao piano, aquele instrumento que às mãos de Gloria se torna algo surreal e que por momentos faz esquecer os próprios problemas. Glória já não sente o prazer do piano, e senta-se apenas a observa-lo pois é a maneira mais fácil de estar perto de Daniele. E a esta triste e pesada imagem chegamos, a um retrato de uma família que nos momentos difíceis se afastam e se esquecem involuntariamente criando então a mágoa que do amor, carinho e atenção é oposto.

“Eu nunca guardei rebanhos”
Este é o primeiro poema do heterónimo, Alberto Caeiro, de Fernando Pessoa. É o primeiro de 49 poemas que constituem “O Guardador de Rebanhos” e que segundo Fernando Pessoa este poema foi escrito, na carta a Adolfo Casais Monteiro, quase todo o dia 8 de março de 1914, “o dia triunfal” da sua vida. Esse dia triunfal fora então o dia em que surgiram os três heterónimos de Fernando Pessoa (como o stor mostrou na curta metragem).
Passando ao poema, o poeta apresenta-se como pastor, o poeta da natureza, de olhos ingénuos sempre abertos para as coisas (versos 3,5-6,31-33).
O sujeito poético estabelece com a natureza uma relação de simbiose que se manifesta na forma como “conhece” os seus elementos e se liga a eles “E anda pela mão das estações” Jacinto Prado Coelho diz: “Logo no começo do poema se declara pastor por metáfora. De pastor tem o deambulismo (“eu não tenho filosofia: tenho sentidos”, ”com filosofia não há árvores, há ideias apenas”), o andar constantemente sem destino, absorvido pelo espetáculo da inexaurível variedade das coisas. Anda a seguir passivamente, com o espírito concentrado numa atividade suprema: olhar. Os seus pensamentos não passam de sensações. Vive feliz com os rios e as plantas, gostosamente integrado nas leis do universo.” Oscar Wilde – “Com liberdade, livros, flores e a lua, quem não pode ser feliz?”
v.4-6 Conhecer é diferente de estabelecer, pois conhecer não exprime o estado de espírito
Caeiro surge-nos neste poema como o poeta da objectividade do imediatismo das sensações: v.7-8. Aqui o poeta deseja que os seus versos levem os leitores a imaginá-lo como uma coisa natural, como uma árvore, por exemplo, á sombra da qual se sentavam, quando crianças, cansados de brincar. Também podemos entender a ideia de Eu sou um quadro da paisagem, eu faço parte da paisagem.
v9-10 alguém com estas características não era susceptível que ficasse triste porque a tristeza constitui uma modelação do estado de espírito e alguém assim não tem modelações. O poema resolve esses problemas pois “mas eu fico triste como um por do sol”, logo á partida o por do sol é triste ou é contente? Só é contente ou triste perante os olhos de quem o observa. “para a nossa imaginação”, no entanto imaginação é uma coisa que ele não tem, porque tudo o que ele diz é do domínio do concreto,  então ele automaticamente está-se a excluir desta tristeza. A tristeza do sujeito poético é causada pelo fim do dia, no momento do por do sol, quando a noite cai sobre a natureza, o sujeito poético terá mais dificuldade em ver o que se passa á sua volta e em caeiro, a visão é primordial. (poema II Guardador de Rebanhos, “o meu olhar é nítido como um girassol”) Ainda no verso 9, a conjunção adversativa “mas” chama a atenção para o facto de ser contraditória a tristeza que o sujeito poético vai confessar, pois se ele tem á sua volta tudo aquilo que deseja, como poderá sentir-se triste?



Na 2ª estrofe a tristeza é identificada com sossego, o que funciona como uma espécie de negação da tristeza anteriormente expressa, pois refere-a como positiva ao identificá-la com sossego. Essa tristeza é tranquila, porque tem em si a naturalidade das coisas simples, e está aqui em evidencia a aceitação do real tal como ele se apresenta, sem contestação nem interferência do pensamento.
Nas estrofes 3 e 4 o sujeito poético defende que a recusa do ato de pensar é a via para alcançar a paz e a felicidade, pois quando afirma ter “pena de saber que”(v.22) os seus “pensamentos são contentes”(v.22), o sujeito poético esta a colocar o acento tónico no verbo “saber”(conhecimento que é trazido através do ato pensar). “Se não o soubesse”(v.23), seria completamente feliz, assim é paradoxalmente “contente” e “triste” e a tristeza advém-lhe da consciência de saber. Assistimos então á presença de um oximoro (é uma figura de estilo que harmoniza dois conceitos opostos numa só expressão, formando assim um terceiro conceito que dependerá da interpretação do leitor) contido no verso 24 “contentes e tristes”. Tambem vemos a presença de um pleonasmo (redundância da expressão, enfatizando-a) no v.25 “alegres e contentes” e a comparação expressa no verso 26 “pensar incomoda como andar á chuva”.
Finalmente Caeiro apresenta-se como anti-metafísico, negando o valor ao pensamento v.21-25 o pensamento tem mesmo um valor negativo: se não pensasse os seus versos não teriam nada de tristeza, seriam apenas “alegres e contentes”. “Pensar incomoda como andar á chuva” e foi este incómodo de pensar que Fernando Pessoa nunca conseguiu evitar. Já vimos como a dor de pensar sempre o torturou, inventando muitas saídas para o drama do seu “eu” dividido entre o real e o imaginário, entre o ser e o não ser, tal como em chuva oblíqua. A tentativa mais radical de fugir á dor de pensar foi esta de transferir a sua alma para um poeta bucólico que olha e sente o mundo com a simplicidade com que a criança olha uma flor. Mas nem assim o poeta consegue libertar-se da inteligência que vem sempre toldar a simples alegria de ver: “Os meus pensamentos são contentes./ So tenho pena de saber eu são contentes”, porque assim ficam contentes e tristes. A plena felicidade exige não so o olhar simples de uma criança mas também a sua inconsciência. Não é apenas nisto que o sistema de Caeiro claudica. Como se pode ver, por exemplo no poema V de Guardador de Rebanhos, o poeta não é capaz de dispensar nem o pensamento, nem o raciocínio, nem a inteligência, para nos convencer de que para ele há apenas sensações “Eu não tenho filosofia: tenho sentidos”. O que podemos concluir é que o poeta ao negar a metafísica, está a construir uma anti-metafisica.
Ao analisar a linguagem e o estilo vejo que existem sinais de contradição no discurso deste poeta, e Jaqueline Seabra observa: “ o poeta se visualiza a si mesmo em termos metafóricos: um pastor, de cajado na mão, guardando seu rebanho. Caeiro é então, como os outros heterónimos, um poeta metáfora” Na realidade a metáfora não esta ausente deste poema, pois o poeta escreve versos num papel que é o seu pensamento, olhando para o seu rebanho ve os seus pensamentos e olhando para os seus pensamentos ve o seu rebanho, donde se conclui que o rebanho é os seus pensamentos, ideias e vice-versa. O quiasma( cruzamento simétrico de rebanho-pensamento, pensamento-rebanho) acentua a expressividade da metáfora. 

sábado, 9 de março de 2013


Pauis
O título deste poema mostra a forma como pessoa se sentia, pauis significa pântano e Fernando pessoa assimilou-o a ambientes de sombrios, parados.
O poema que eu vou apresentar faz parte da obra ortónima de Fernando Pessoa. Ou seja é um poema assinado pelo seu próprio nome. Esta obra é de grande valia embora seja bastantes vezes ofuscada pela dos seus heterónimos.
Os temas da obra ortónima e que se podem verificar neste poema são, a identidade perdida, a consciência do absurdo da consciência, dor de viver etc.. Pessoa ortónimo é por isso marcado por uma tristeza, uma falta de energia. Existe um sentimento em pessoa de tédio e leveza.
Pauis no primeiro verso significam estagnação de espirito.
Existe uma ideia vaga da tristeza provocada por uma estagnação talvez da alma ou de espirito. Podemos verificar isso através das frases no poema.
Existe uma ansiedade pelo que não se tem, o distante, o inatingível sugerido por verbos ligados á ideia de vontade.
Há neste poema um conjunto de palavras e expressões que se situam no âmbito de um campo semântico revelador de dois sentimentos do poeta: "paúis" (paúl é um pântano de água estagnada), "ânsias", "empalidece, "corre um frio carnal por minh'alma", "estagnado", "grito de ânsia", "pasmo de mim", "desfalecer", "oco", "dia chão" (dia chato), "sentinela hirta", "silêncios futuros". Tudo isto aponta "para qualquer coisa de estático, projecção focada sobre qualquer coisa de opressivo" (Maria Aliete Galhoz). Mas aponta sobretudo para o poeta que se sente sufocado, oprimido (frio carnal na minh'alma, pasmo de mim, o meu abandonar-me a mim próprio até desfalecer) e sentindo ainda o desejo de se libertar, embora já frustrado, (grito de ânsia, estendo as mãos para além, mas ao estendê-las já vejo que não é aquilo que desejo...). O poeta chega à conclusão de que não pode sair do círculo apertado onde se meteu. Por isso, limita-se a olhar ansiosamente os horizontes distantes e, mesmo estes, com limites de ferro: Trepadeiras lambendo os Aléns, silêncios futuros, longes trens, portões vistos de longe... tão de ferro!
São evidentes no poema as influências de Decadentismo-Simbolismo.

"Hora" está aqui como personificação do tempo presente, do aflitivo tempo do poeta, como se fosse uma prisão.
O poeta sente-se encarcerado no presente, que o mesmo é dizer, prisioneiro de si próprio. "Tão sempre a mesma hora" é, afinal, equivalente a: sempre esta minha angústia!... Quando o poeta afirma que "a Hora expulsa de si tempo", quer dizer que o tempo vai passando; mas acrescenta logo que isso é apenas "onda de recuo que invade o seu abandonar-se a si próprio até desfalecer". Isto é, o tempo passa, mas a situação angustiosa do poeta (a Hora) permanece. Por isso, "um mudo grito de ânsia põe garras na Hora" (na angústia presente do poeta).
O passado, o futuro, o presente, estão bem marcados no poema. Referem-se ao passado: "dobre longínquo de outros Sinos", "Ó tão antiguidade", "onda de recuo que invade o meu abandonar-me a mim próprio até desfalecer".
Esta última expressão leva-nos à conclusão de que as memórias do passado servem ainda para alimentar a angústia do presente. Referem-se ao futuro: "Estendo as mãos para além", "Trepadeiras de despropósito lambendo de Hora os Aléns", "...silêncios futuros...", "Longes trens...", "Portões vistos de longe... tão de ferro!" também este olhar para o futuro não suaviza o presente do poeta. Antes, é o presente que proteja a angústia para o futuro que surge como inatingível (portões vistos de longe... tão de ferro!). De notar como aqui o espaço se identifica com o tempo: o poeta sente-se prisioneiro do espaço e do tempo.
O fulcro da angústia situa-se no presente, na Hora. É verdade que o presente, como se viu atrás, lança, por vezes, tentáculos para o passado e para o futuro. Mas esses tentáculos logo se recolhem ao presente carregados de desilusões. Vemos agora mais claramente a razão da maiúscula de Hora: esta é o presente que sintetiza o passado e o futuro, é o poeta no seu cárcere invisível.
Note-se que uma das razões da angústia do poeta é uma espécie de desintegração da personalidade, sensação essa que daria origem à criação dos heterónimos, ao seu "drama em gente": O mistério sabe-me a eu ser outro...

quinta-feira, 7 de março de 2013

Poema:Sou um guardador de rebanhos


1ª Estrofe:
Nos primeiros versos o autor, através duma metáfora, compara-se a um pastor em que o rebanho é os seus pensamentos.
Depois descreve os pensamentos como sendo sensações que ele recebe através de todos os órgãos de sentidos.

Ou seja, o que autor quer dizer com isto é que sendo ele dono dos seus pensamentos também os guarda e mantem juntos tal como o pastor faz com o seu rebanho. Ele diz que pensa com os olhos, os ouvidos, os pés, as mãos, o nariz e a boca, o que significa que os seus pensamentos surgem através do que ele apreende através dos cinco órgãos dos sentidos audição, visão, tato, olfato e paladar.


2ª Estrofe:
Nestes dois versos o poeta diz que pensar é sentir

Ele dá exemplos dizendo que “pensar uma flor é vê-la e cheirá-la” o que significa que basta ele pensar em algo e vai sentir como se estivesse perto do objeto pois pode sentir o cheiro duma flor sem ela estar na sua presença, porque reteve essas sensações no seu pensamento.
Também diz que “comer uma fruta é saber-lhe o sentido”, ou seja através do contacto direto com o objeto, feito através dos sentidos ele compreende esse objeto.

3º Estrofe:
Na 3ºestrofe o autor explica que quando se sente triste por viver um dia com tanta intensidade, deita-se na erva, ou seja junto da terra e da realidade, fecha os olhos e consegue assim contactar com a verdade e ser feliz.
Parece que o autor nos está a dizer que podemos acabar com a tristeza se nos deixarmos de grandes pensamentos complicados e nos ficarmos pelo que nos dão os nossos sentidos, pois é através deles que contactamos com a realidade e podemos ser felizes.